dezembro 06, 2008

Intuição feminina


Acabei de ter um sinal revelador de que a intuição feminina é mesmo uma especialidade do género em causa.
Quando a minha mulher me perguntou se queria acompanhá-la às compras, a minha filha, ao ver-me à procura de uma boa desculpa para me esquivar, veio em meu socorro dizendo:
- Oh pai, ela só quer o cartão multibanco, mais nada.
- Ah pois, aqui está.
E não é que ela tinha razão?
Ainda estou de boca aberta a pensar na clarividência e rapidez de raciocínio de uma menina de dez anos que viu mais longe e mais depressa do que eu com toda a minha experiência e intuição de que costumo orgulhar-me.

dezembro 02, 2008

Przednówek

A propósito do tempo frio e da terra coberta de neve fiquei a saber, através de uma colega polaca, que no seu país existe uma palavra, przednówek, que designa o período mais ou menos longo que se situa por volta de Janeiro, Fevereiro e Março - desde que começam a escassear os víveres da última colheita até ao final da invernia que não permite retirar da terra seja o que for.
Entre nós, temos um provébio que diz: "do cerejo ao castanho bem eu me amanho, do castanho ao cerejo, mal me vejo". Ou seja, de Junho a Novembro, está tudo bem, mas daí até Junho as coisas piam mais fino.
Eu achava que este provérbio era pouco mais que folclore e não tinha consciência da real dimensão do problema. Inclusivamente, quando a minha filha estava para nascer, a minha sogra disse - Oxalá que não nasça em Março! Eu, à luz da realidade actual, achei um perfeito disparate o seu desabafo. Mas ela lá tinha as suas convicções para achar que uma criança nascida em Março não tinha grandes hipóteses de sobreviver. A história tinha-lhe transmitido esta sabedoria que, embora desactualizada, tinha a sua justificação.
De facto, quando se dependia das colheitas próprias, sempre incertas, o período em causa poderia tornar-se um verdadeiro pesadelo.
O mundo actual, verdadeira aldeia global com fluxos constantes de bens de consumo em todas as direcções, faz-nos esquecer tempos terríveis nada longínquos.
Neste particular, a Polónia, com invernos longos e rigorosos e uma história repleta de ocupações e anexações por outros paises cujos governos, na qualidade de ocupantes não primariam pela solidariedade para com os vencidos, o przednówek era um período negro com a fome a fazer verdadeiras razias na população.

novembro 16, 2008

Alguém me diz o que é isto?

Costuma-se dizer que nada aparece por acaso e quando nos deparamos com um determinado cenário, por mais estranho que nos pareça, normalmente descobrimos o seu objectivo ou intencionalidade. Não se passou assim neste caso.
Há já uns meses, num local público, nas imediações de uma estação de serviço, na fronteira, do lado espanhol, deparei-me com a situação que as fotos documentam: uns atilhos grosseiros emendados, formados por uma fita de prender cargas e um fio eléctrico, presos no alto de um ramo de choupo e, suspensos da outra ponta, um pequeno tronco, um bloco de cimento e outro de granito. Estas três peças suspensas, por sua vez, estavam também presas ao extremo do banco de granito, como se vê na foto, desviados da vertical em cerca de 20 graus. Perante tal achado, por mais voltas que desse à cabeça, tal como hoje, não enxerguei qualquer relação causa/efeito, objectivo ou intenção. A curiosidade levou-me a fotografar a cena. Decorridos vários meses, quando, como agora, por associação de ideias, o assunto volta à baila, continua a intrigar-me como um puzle sem solução.

novembro 12, 2008

Ataraxia

Já conhecia a sensação mas, antes do comentário do meu amigo Aix, nem sabia que existia uma palavra chamada ataraxia e muito menos que se tratava de uma corrente filosófica relacionada com a postura emocional.
O referido comentário pôs-me a reflectir sobre algumas mudanças na qualidade de vida, para melhor, relacionadas com práticas mais saudáveis.
E posso testemunhar, com a minha vivência, aquilo que o FCarvalho diz acerca da obtenção da ataraxia. Libertarmo-nos do vício do tabaco, substituir o automóvel pela bicicleta, cultivar os nossos legumes, fazer compostagem do lixo orgânico, sermos amigos do ambiente e termos comportamentos consentâneos com aquilo em que acreditamos são apenas aspectos parcelares do nosso dia a dia que contribuem para o bem-estar e nos fazem sentir mais calmos e serenos, com a auto-estima em alta e com a sensação de controlo sobre as nossas vidas, resumindo, contribuem para a ataraxia.

outubro 22, 2008

De bicicleta

Estou prestes a completar a segunda semana desde que passei a usar a bicicleta para me deslocar de casa para o local de trabalho. A distância não chega a 10 km para cada lado e demora uns 25 minutos na ida e 30 no regresso.
Para já estou muito satisfeito com a experiência que, em princípio, será para continuar, pois, até ver, é só vantagens. Até já comprei um impermeável que tenho transportado em vão visto que ainda não apanhei chuva que se visse.
Há anos que eu e o meu caro colega Z.P. falamos em começar a viajar desta forma mas, com a desculpa da falta de segurança, do excesso de trânsito, estradas estreitas, falta de civismo dos condutores, temos vindo sistematicamente a protelar esta decisão.
Este ano, ao equacionar de novo a possibilidade, pensei no horário certinho a começar sempre às 8:30 da manhã, combustíveis em alta, falta de tempo para ir ao ginásio, a anunciada crise, o impacto da queima de combustíveis fósseis na minha bolsa e no ambiente, o meu novo estatuto de ex-fumador, etc e conclui que estavam reunidas as condições para pôr o projecto em marcha. Terminado o período experimental, concluo que tem sido uma óptima experiência e, para já, não tenho sentido nenhuma das dificuldades de que estava à espera. Viajo sozinho pois o meu colega Z.P. ainda continua à espera que a motivação chegue mas, pelo que vejo, há já mais gente a equacionar a mesma possibilidade, pelo menos o L.M. ontem disse-me: - Eh pá, de minha casa aqui são 14,4 km!

agosto 12, 2008

"Sala" de fumo


Hoje deparei com o local que a foto documenta. À porta de um pequeno café no Nordeste transmontano, o dono teve a simpatia de "mobilar" e decorar o espaço de acordo com o fim a que se destina. Os fumadores agradecem, acho eu.

julho 04, 2008

Tempo de paragem


Há quase um mês sem escrever no blogue, dou por mim a pensar: porquê? E chego à conclusão que isso tem a ver com o actual estado de espírito. E o estado de espírito até não tem nada de especial. A vida em geral, a nível profissional e familiar (mulher e filhos), vai de vento em popa, bem melhor do que mereço. Esta apatia que se instalou no que respeita à escrita será um caso cíclico pelo qual, de vez em quando, penso eu, todos passamos. O que originou esta desmotivação, neste caso, tem a ver apenas com um facto concreto - alguém próximo que prezo e estimo desiludiu-me profundamente. Sabemos antecipadamente que as pessoas não páram de nos desiludir mas, quando isso acontece, nunca estamos preparados para encarar o facto. E o resultado é, de forma reflexa, fecharmo-nos na nossa concha, ficarmos mais azedos e desconfiados e reduzir ao mínimo a interacção com os outros. Não sei ainda se se trata de uma paragem ou do fim do percurso. O tempo o dirá. Somos uns bichos muito complicados e reagimos à situações de acordo com a nossa maneira de ser.

junho 06, 2008

Fuga do manicómio


Àmanhã vou, por quatro dias, acompanhar um grupo aos Picos da Europa. É trabalho mas trata-se de uma tarefa muito agradável. Mais ainda, na actual conjuntura, por ter a oportunidade de sair deste manicómio em que estamos transformados por causa do campeonato europeu. Sou um homem do desporto, por gosto e por profissão mas isto é demais. Durante a tarde, no supermercado, a selecção e as respectivas cores tomaram conta de tudo e eram o pretexto e o denominador comum para vender fosse o que fosse desde televisores a cerveja, flocos de cereais, carne e mais não sei o quê. Há bocadinho estava a tomar café quando, no telejornal, da TVI salvo erro, começam a ameaçar que iam, de seguida, falar sobre a "moça de dezassete anos" que o Sr Scolari conheceu há muito tempo. Ainda consegui emborcar rapidamente o café e vir embora antes da dita "notícia".
Se o ridículo matasse...
Mas o mais grave no meio disto tudo é as pessoas acreditarem mesmo que a selecção nacional é favorita aos lugares cimeiros da competição. Parece que esqueceram os resultados recentes e a forma sofrida como, num grupo de apuramento fraquíssimo, se arrastou penosamente para conseguir ir à fase final.
Será a crise que atravessamos que nos faz baixar a auto-estima e nos deixa tão carentes e sem outros factores de realização pessoal?
Perdoai-lhes, Senhor!

maio 30, 2008

Rega gota a gota

Após dois anos de pausa, voltei a adoptar o sistema de rega gota a gota.
Este sistema é quase só vantagens: Evita o efeito de lixiviação da terra e a consequente perda de nutrientes; fornece à planta a quantidade de água de que necessita sem necessidade de recurso a mecanismos biológicos de adaptação ao meio; e também, não menos importante, pela poupança de água, imperativo económico e ecológico. Para não falar na facilidade de não ter que fazer mais nada que não seja abrir a(s) torneira(s). Ainda não senti necessidade mas até posso instalar um temporizador com programa de rega e aí... fico com uma horta inteligente.
Depois de montado, o que é muito rápido e barato, a única desvantagem é a facilidade com que os tubos entopem por a água do furo ser bastante barrenta.
O sistema que usava era de montagem mais difícil e não permitia que as diferentes culturas fossem contempladas com a quantidade de água de que necessitavam. O sistema era de tudo ou nada, ou seja, regar ou não regar. Era um bocado difícil conciliar a rega dos tomateiros que requerem pouca água, das alfaces, que querem toda a que se lhe der ou das couves, que não gostam das regas à tarde. Então, como se pode ver na foto, em cada derivação instalei uma pequena torneira que permite fazer regas selectivas.
Posso regar directamente da torneira (água do furo) mas resolvi instalar um reservatório com bóia que fecha a torneira de enchimento. É mais seguro porque, se houver uma ruptura, a perda de água será apenas a que houver no depósito.

maio 28, 2008

Lazarilho de Tormes e Galp VS Governo


As peripécias do cego Lazarilho de Tormes e do seu criado, livro do Séc. XVI de autor desconhecido, explicam as acusações mútuas entre o Governo e a Galp acerca do aumento dos preços dos combustíveis. Uma das situações mais engraçadas do tal livro é o relato acerca da uva que ambos comiam, bago a bago, o cego e o seu criado. A páginas tantas o cego, sem qualquer aviso, dá um valente tabefe no criado. E este questiona:
- Mas porque me bateste?
- Porque combinámos comer um bago de cada vez e tu, meu malandro, estavas a comer três
- Mas, como podes ter tal certeza se és cego?
- Elementar, meu caro. Comecei a comer dois bagos de cada vez e tu ficaste calado. Obviamente estavas a comer três.
A Galp e o Governo têm um protocolo para dividir a uva, perdão, para nos explorar com os combustíveis. O Governo mama cerca de 50% de ISP e IVA e a Galp fica com 8% para refinação. Ora, com os grandes aumentos do crude, ao contrário dos consumidores, tanto um como outro viram as suas margens de lucro passar de exorbitantes a indecentes. E daí as acusações mútuas de a outra parte ser responsável pelo aumento dos preços. Mas, afinal nenhum deles abdicou e lá vão continuando esta sangria que nos está a enfraquecer cada vez mais e ameaça paralisar alguns sectores da nossa economia.
Enfim a ganância já vem de longe e por cá continuará a vigorar.

Inadaptado para a função

Santana Lopes, ao concorrer à Direcção do seu partido, sujeita-se a voltar a ser 1º ministro. E pode? Então, alguém que me corrija se estiver enganado, mas o homem não foi despedido desse cargo por incapacidade para a função? E pode voltar a ser integrado? Mesmo antes de o Código do Trabalho vir com a famigerada questão da inadaptação seria legítimo que o actual gerente, perdão, que o actual presidente da República, desautorizasse o anterior e aceitasse o regresso deste funcionário? Será que a campanha em curso o vai reabilitar e a incompetência que levou ao seu despedimento deixa de ser importante? Seremos mesmo, também na política, o tal país de faz de conta?

maio 19, 2008

Justo perdedor

Não sei se o Sporting foi um justo vencedor da Taça de Portugal mas não tenho dúvidas que o FCP foi um justo perdedor. Um clube que, por pressões externas, em nome não sei de quê, deixa de fora um jogador importante como é Bosingwa, merece a derrota seja qual for o adversário e a competição. Não faço ideia das negociatas que estiveram por trás da decisão de não deixar um jogador terminar a época no seu clube. Li que os milhões falaram mais alto mas não entendo como um clube comprador pode exigir que um jogador deixe de participar num jogo importante do ainda seu clube e, menos ainda, que o clube vendedor se acanhe e aceite estas condições. Não estou habituado a ver o presidente dos dragões a fazer papel de morcão mas, neste caso, não vejo outra classificação.
Claro que temos que ser práticos e aproveitar as ocasiões mas...

maio 16, 2008

O método simples para deixar de fumar

Ultrapassado este período que não foi negro mas não desejo ver repetido, aqui estou de novo, de lápis afiado, pronto a voltar à escrita.
Ontem vi à venda o livro de Allen Carr - "O método simples para deixar de fumar". Comprei-o para satisfazer a curiosidade acerca do dito depois de ouvir elogios e de saber que algumas pessoas deixaram de fumar depois de o terem lido.
Não o achei nenhuma obra de arte mas li num ápice as mais de duzentas páginas. Não sei se a maioria das pessoas teria motivação para o ler com a mesma sofreguidão mas, pela parte que me toca, com a fé de um cristão novo, ex-fumador desde há pouco, chamei-lhe um figo. Além disso, em vários aspectos, gostei de ver o percurso e a abordagem do autor, coincidentes quase ponto por ponto com o meu próprio percurso e com as conclusões a que fui chegando depois de, como ele, ter acumulado mais de trinta anos de fumo.
Acredito na eficácia do método que o autor propõe, mas houve um aspecto da exposição que me desagradou e me deixou de pé atrás. Aprecio a frontalidade e não gosto nada de ser enganado mesmo que isso seja feito com intuitos pedagógicos. Concretizando: logo no 2º parágrafo diz que não vai falar dos terríveis riscos para a saúde que os fumadores correm nem da fortuna que gastam. Afinal, do princípio ao fim, ainda que de forma indirecta, repete incessantemente esses mesmos argumentos.
De qualquer forma a leitura de livro trouxe-me algum conforto ao transmitir-me uma atitude mental mais consistente, mais optimista e sobretudo mais defensiva relativamente a (im)possíveis recaídas futuras.

abril 15, 2008

Já fui repreendido pelo meu amigo e leitor “el bianês” que não tolera mais esta falha de produção. Tenho estado com muito trabalho e com alguma dificuldade em dar conta do recado em todas as frentes. E, nestas circunstâncias, é o blogue que fica para trás. Espero, em breve, voltar à serenidade habitual e retomar a escrita.

abril 01, 2008

Lição de Biologia para biólogos

Estava a curtir um período de menor pujança na actualização do blogue quando o meu amigo Xo_oX veio desafiar-me, questionando-me sobre a hora a que rego as alfaces e os tomates.
Com quem ele se foi meter! E logo no que respeita aos tomates e às alfaces pois, não é para me gabar, mas costumo ter, de ambos, os melhores cá do sítio.
Então, fica a saber que não viro a cara à luta e vou esgrimir argumentos contigo no teu próprio terreno, salvo seja.
A rega deve ser sempre de manhã por várias ordens de motivos e cuja preponderância é diferente, de acordo com a estação e a temperatura. Fica sabendo que as plantas precisam, para a reprodução celular, vulgo crescer e amadurecer, o mesmo que nós, nutrientes, energia e água. Deves regar de manhã porque:
- No tempo mais frio, ao regar no final do dia correrias o risco de a água fria as privar do calor/energia que acumularam e de que precisam para o seu crescimento/desenvolvimento. As pessoas de Brunhoso já descobriram isso há muito tempo e as leiras mais delicadas, no tempo frio, eram regadas, de manhã, com água amornecida, ligeiramente quebrada da friura, como se dizia. Deves então regar de manhã quando a planta ainda está fria e a perda de energia é desprezível.
- Com tempo quente, deves igualmente regar de manhã para evitares o choque térmico que aconteceria se deitasses água fria quando a planta está quente. Nenhuma planta gosta destas mudanças bruscas e algumas, nomeadamente as couves, reagem a este tratamento e ganham a chamada potra com formação de tubérculos nas raízes.
Nos últimos anos tenho usado a rega gota a gota que, além de outras vantagens, em virtude da pequena quantidade de água que vai sendo debitada, minora grandemente os inconvenientes citados.
E só para completar a informação, as alfaces rego-as frequentemente, os tomates rego-os com muito pouca frequência. E, já agora, as alfaces são dos poucos vegetais que gostam de água na folha. Os tomates, como a maioria dos restantes, querem-na apenas no pé e as folhas nunca devem ser molhadas, senão tens o míldio à pega.
Mais alguma coisa? É só pedir.

março 30, 2008

Motivação

Quando deixamos de nos dedicar ao blogue com a regularidade do costume dizemos que andamos sem disposição, muito ocupados, sem ideias, com muita preguiça, sem cabeça para escrever... enfim, as desculpas que estiverem mais à mão, às vezes até dizemos que o computador esteve com problemas. Mas serão verdadeiras essas desculpas? Claro que sim mas a verdadeira razão do nosso afastamento é, quanto a mim, termos encontrado algo que, ainda que por algum tempo, nos dá mais satisfação que a escrita do blogue. Como diria o principezinho de Saint Éxupéry, encontrámos outra flor a quem dedicar o nosso afecto.
No meu caso, este afastamento temporário, espero, deve-se a outras urgências relacionadas com a agricultura e a jardinagem. E tem sido, de facto, um prazer viver esta época de lavrar, plantar, semear, podar...
E, nesse contexto, o blogue vai ficando para trás.

março 24, 2008

Noite de Páscoa

Desde há vários anos que a noite de Páscoa, em virtude da proximidade dos sinos da Igreja, a tocar desde a meia noite, tem sido passada em branco ou quase.
Há uns anos, à procura de sossego, resolvi mudar o local da pernoita. Não resultou porque, em vez do sino, apanhei com um cão que não se ficou em nada atrás dos sinos e fez questão de ladrar toda a noite. Desisti de mudar e acabei por me sujeitar à fatalidade do destino. Este sábado, uma vez mais, já conformado com a perspectiva habitual, deitei-me, como de costume, com a leve esperança de os tocadores de sino se cansarem e acabarem por dar algum sossego. E foi o que aconteceu ou, pelo menos era o que eu pensava. Dormi o sono dos justos. Tive uma leve sensação de ter ouvido os sinos mas, arrumei o toque no sonho e nem chegou a acabar de me acordar.
De manhã levantei-me a gabar-me da minha capacidade de adaptação e da forma como deixei de ouvir os ditos e dormi toda a noite sem dar pela sua presença.
Foi aí que me deram a notícia que todos sabiam, excepto eu, o sino tinha caído do campanário pouco depois dos primeiros repiques e quase não houvera toque.

março 19, 2008

Crime de lesa-pátria

Hoje, no Gerês, ao apreciar mais uma casa abandonada à sua sorte, voltei a lamentar este verdadeiro crime de lesa-pátria de desprezar um bem precioso e escasso como são as inúmeras casas espalhadas pelo Parque Nacional Peneda Gerês.
Aquela que a foto documenta situa-se num local paradisíaco em plena Mata de Albergaria, nas proximidades de Portela do Homem. É apenas uma entre as inúmeras que por lá se encontram, umas em muito bom estado, outras já totalmente arruinadas. Ainda lá estão, entregues à sua sorte, cada vez mais degradadas pelas intempéries, pelo abandono, pela falta de manutenção, sem utilidade para ninguém e para mágoa de todos. São património do Estado, de todos nós mas, não sei porquê, o desmazelo dos governos sucessivos teimam, neste particular, em não governar e permitir este autêntico atentado à nossa economia, à nossa cultura e, diria mesmo, à nossa sanidade mental.
O assunto é recorrente e, de tempos a tempos, fala-se em as entregar a entidades, públicas ou privadas, que as possam manter/recuperar e rentabilizar mas, na hora H, a coisa falha por mais um pormenor inventado mesmo a tempo de deixar que tudo volte à estaca zero.
Até quando?

março 15, 2008

A culpa é dos aforradores

Vítor Constâncio disse ao Jornal de Negócios que não seria boa ideia baixar os impostos porque essa medida não iria estimular o consumo. Acha ele que os beneficiados pela baixa de impostos não iriam gastar mais mas sim alimentar a sua poupança.
Esta conclusão é, no mínimo, cínica e reveladora de falta de clarividência.
Quem, como ele, recebe um vencimento absurdo, superior por ex. ao do seu homólogo norte-americano, não pode extrapolar da sua situação para a dos restantes portugueses. Será lógico concluir que um aumento, para quem recebe tanto como ele, seja canalizado para a poupança. Mas esse raciocínio não é válido para a maioria dos portugueses que lutam com dificuldades para fazer face às necessidades básicas.
- Sr. Vítor Constâncio, eu não sou economista mas conheço o país em que vivo. Se há condições para baixar os impostos, baixem-se de imediato. É bem mais justo e humano aliviar a carga dos portugueses do que estar a cobrar impostos para desbaratar em vencimentos imorais como o seu, TGVs e outros desmandos dignos de políticas de terceiro mundo.

março 14, 2008

É a etiqueta, estúpido!

Hoje, quando estava a comprar uns óculos de leitura, vi uns, de sol, de que gostei. E, está visto, estava mesmo a precisar já que estou constantemente a perdê-los. Perguntei o preço e disseram-me - 19.95€. Até estranhei mas a menina, perdão, a técnica de vendas, foi assim que o optometrista lhe chamou, adiantou-me que eram uns óculos muito bons, as lentes eram as recomendadas e garantiam protecção total contra os raios não sei quantos. E eu questionei a razão de um preço tão baixo já que, pensava eu, uns bons óculos de sol costumam custar os olhos da cara, salvo seja. E a menina confirmou que assim era. Mas garantiu que as lentes daqueles (os de 19.95) eram exactamente iguais às dos tais muito caros, de marcas consagradas. Então porquê essa diferença de preço? É a etiqueta, apenas a etiqueta - respondeu. Ok, vou levar, quero lá saber da etiqueta.

março 11, 2008

A vida está difícil

Pois é, a vida está difícil. Vi no telejornal que os cabecilhas dos maiores bancos da nossa praça se reuniram para lamentarem quão difícil a vida está. Ou não seria para isso? Não cheguei a perceber para que foi a reunião. Mas até me deu pena o ar pesaroso dos senhores, a dizerem quanto lamentavam ter de aumentar o spread porque a conjuntura está com falta de liquidez. Mas aquilo não me cheirou bem. Não parece ser um acerto de estratégias entre eles para fixarem artificialmente as margens de lucro? E isso não é crime? Isto sou eu a divagar e, se calhar, estou enganado porque os senhores das televisões não disseram nada sobre o assunto e até pareciam solidários com a pouca sorte dos bancos. Mas não há nenhum problema pois, em conjunto, em verdadeiro trabalho de equipa, já encontraram a solução: tiram a camisa a quem pedir dinheiro emprestado, perdão, sobem-lhes um pouco aos juros. Ora, aí está uma medida acertada - já todos sabemos que, perdido por cem ou perdido por mil, é igual... E, além disso, por todos não custa nada ajudar. E assim temos a alegria de ver esses senhores felizes e contentes a aumentar escandalosamente os seus lucros.

março 10, 2008

(Des)acordo ortográfico

"No mundo nom me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vos - e ai,
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "


Alguém percebeu alguma coisa do textinho acima? No entanto é português. Arcaico mas português. E vem provar que a língua evolui.
Cavaco Silva foi ao Brasil e na bagagem levou o novo acordo ortográfico que o governo acabou de aprovar. Mas, pelas reacções que tenho observado, parece que a generalidade das pessoas está em desacordo sobre este acordo. Não sou linguista e limito-me a reflectir esta questão com os dados que a vida me foi ensinando.
Parece que o argumento dos que estão contra é dizer – Não senhor, eu quero continuar a escrever da forma correcta; foi assim que aprendi, assim é que está certo e não me obriguem a escrever de forma errada.
Outros argumentam que ao fazer este acordo nos estamos a vergar aos brasileiros. Não entendo assim. Estamos a respeitar apenas a evolução da nossa língua. E se essa evolução aconteceu no Brasil, mais do que em Portugal, isso dever-se-á ao facto de lá existirem mais factores de evolução em consequência do maior número de falantes, oriundos de todo o planeta.
Ora vamos lá pensar um pouco e ver se conseguimos enxergar mais longe que o nosso umbigo. Se aceitarmos o facto indesmentível de a língua ser dinâmica e evoluir com o tempo, não podemos fechar os olhos e dizer que não concordamos. Ora, se a língua muda e a grafia se mantém, corre-se o risco de a ortografia se afastar da fonética e, assim, criarmos dificuldades desnecessárias. O acordo ortográfico é, não só um acordo entre os falantes, como um acordo entre a fonética e a grafia. Quanto maior for a semelhança entre a linguagem falada e a sua representação gráfica (escrita) mais fácil será para todos. Então vamos lá facilitar a vida aos mais novos que estão ainda a aprender e retirar as letras que não se lêem e só lá estão para enfeitar e confundir mesmo que para tal tenhamos que ganhar novos hábitos.
A questão não me parece ser se estamos ou não de acordo com o acordo. Penso que a maioria das pessoas que diz discordar, está apenas a manifestar o seu desconforto de ter de se adaptar a uma nova forma de escrever diferente da que aprendeu e sempre utilizou.
Mas tinha que ser já? Não tinha de ser já mas quanto mais depressa se fizer mais fácil porque haverá menos mudanças.
Enjeitar a oportunidade de fazer este acordo seria mau por todos os motivos, nomeadamente económicos. Seria o início do fim da comunidade de língua portuguesa se a grande comunidade de falantes do português não se entendesse e cada um dos países tomasse um rumo de evolução próprio.
O latim manteve-se inalterado e assim continua, só é pena ser uma língua morta.

março 09, 2008

Bacalhau à minha moda

Hoje, seguindo o exemplo de outros ilustres frequentadores do fórum de Brunhoso deixei lá uma receita de bacalhau que achei por bem partilhar com os meus leitores. Partilhar a receita, já que, aqui na net, até ver, a partilha ainda não é extensiva ao bacalhau.
Então aqui fica a mensagem que lá deixei:
Já que os homens aproveitaram o dia internacional da mulher para sair do armário e assumirem finalmente quem é que cozinha lá em casa, vou aproveitar a deixa e sair também do meu armário. E vou fazê-lo, ou tentar, da mesma forma airosa dos meus ilustres colegas utilizando o truque da receita.
O prato que aqui apresento é do mais simples que há mas, ao mesmo tempo, do melhor que conheço.
Ingredientes para 4 pessoas:
- 4 postas de bacalhau demolhado
- Batatas pequenas q.b.
- Uma cabeça de alho
- Entre meio quartilho e meio litro de azeite de Brunhoso (o azeite da zona que confina com o Rio Sabor é semelhante ao de Brunhoso e também pode ser usado neste prato).
Colocar numa assadeira de ir ao forno, as batatas com a casca, o bacalhau e o alho (esmagados); regar abundantemente com azeite e levar ao forno por uma hora. É para cozinhar em azeite, como tal deve levar bastante, mais de meio quartilho. O que sobrar pode-se guardar e usar posteriormente noutros pratos.
O ideal é cozinhar no forno mas, quem tiver pressa pode cozer previamente as batatas e quem estiver mesmo com muita pressa, neste caso demorará uns 25 minutos, além de cozer primeiro as batatas, pode usar o micro-ondas.
Enfim desculpem os truques de um cozinheiro já corrompido pela civilização industrial mas, com a falta de tempo, o micro-ondas, é uma modernice muito útil e o paladar do bacalhau acaba por nem se queixar.
Experimentei hoje esta receita e posso adiantar que, uma vez mais, fez as delícias dos contemplados. Não é para me gabar mas o meu amigo Américo, apreciador de boa comida, perguntou-me uma vez:
- Como é que chamas àquele prato de bacalhau cujo sabor, depois deste tempo todo, ainda tenho na boca?
Elucidativo, este comentário do Américo.
Bom apetite.

março 07, 2008

Gosto desta foto


Esta foto foi tirada no Gerês no sábado passado(01.03.08) pelo meu amigo André Ramalho. Vê-se apenas o perfil da pessoa retratada que não sei bem quem é mas desconfio que o meu amigo Gaspar sabe.
Gosto desta foto porque sim. Mas também pela sua simplicidade e pela mensagem implícita de forte ligação e interdependência entre o homem e a natureza. As formas e tons da figura humana e da natureza fundem-se, confundem-se e continuam-se com equilíbrio e harmonia...

março 05, 2008

Champanhe para crianças

Hoje fui com a minha filha fazer as compras para a sua festa de aniversário. Ela lá sabia o que se compra – as guloseimas de todas as formas e feitios, os refrigerantes, os pratos, copos e guardanapos da Barbie... etc. E chegou a vez de a ouvir:
- Falta só o champanhe.
- Como?
- O champanhe para crianças.
- Mas as crianças também bebem champanhe?
- Não é bem champanhe. É só a fazer de conta.
- Vamos lá ver isso mas desconfio que não vais ter direito a nada.
- Oh pai, mas todas as festas dos meus colegas tiveram champanhe!
Levou-me ao sítio do dito e lá estava a tradicional garrafa de champanhe de 75 cl, marca Rik & Rok, e lá dentro “sumo de maçã gaseificado”, custo 1.89€.
- Nem penses, não vamos levar o champanhe.
- PORQUÊ?
E eu expliquei-lhe. Comprar as guloseimas para partilhar com os amigos, tudo bem; comprar as coisas da Barbie muito mais caras que outras iguais mas sem a tal etiqueta, enfim, é festa. Agora tentarem vender-nos sumo de maçã a 2,5€/L, a fazer de conta que é champanhe… isso já é gozar com a nossa cara. E não quero saber se todos os teus amigos compraram ou deixaram de comprar. Em compensação podes gastar naquilo que quiseres o que iríamos gastar no champanhe.
Aquiesceu sem mais fitas.
Quando vínhamos a caminho de casa, a propósito não sei de quê, ouço-a dizer:
- Pai, não sei porquê mas tu és o único adulto que eu admiro.
- Hein?
Fiz de conta que não levei a sério mas fiquei todo babado e a pensar se não terei sido mauzinho ao recusar-lhe o champanhe.

março 04, 2008

Tanto durmo como faço

Diz o provérbio que em Março tanto durmo como faço. No meu caso não está a ser verdade e acho que vou reclamar pois ando a trabalhar bem mais do que durmo. E tanto assim é que não tem sobrado sequer tempo para actualizar o blogue. Prometo que, em breve, logo que esta fase seja ultrapassada, voltarei à regularidade habitual (regularidade na escrita e não no trabalho, está bom de ver).
Geralmente a ausência de escrita é devida à falta de ideias para encontrar assunto que me motive mas, ultimamente, não tenho tido sequer serenidade suficiente para agarrar as ideias que vão surgindo e menos ainda para as trabalhar.
E por falar em ideias, realço que elas são necessárias para tudo. Ontem disse à minha filha (nove anos) que não precisava de se levantar tão cedo. Resposta pronta:
- Como estava sem ideias para continuar a sonhar, resolvi levantar-me.
Outra dela e das ideias, ocorrida há já uns dois anos:
- Pai, quando se nos acabarem as ideias sobre locais para férias vamos voltar a este sítio, está bem?

fevereiro 29, 2008

Cartas de amigo

Havia as cartas de amigo, de escárnio e de mal-dizer, ou seriam as cantigas? Esta que colo em baixo, é uma carta de de amigo, aliás, amiga, e trata-se de um mail que acabei de enviar a uma amiga muito querida. Pela resposta que aqui deixo, dá para ter uma ideia acerca do teor da mensagem recebida que, obviamente, não divulgarei. Fiquei tão orgulhoso da confiança depositada que resolvi partilhar aqui no blogue.

"Olá, F...,
Muito obrigado por me teres escolhido como confidente especial. Ser o primeiro a ter a honra de ler o teu livro sensibilizou-me até à medula e garanto-te que o que acabei de escrever não é uma figura de estilo.
Eu sei que existe, no plano mental, uma forte cumplicidade entre nós. Também sabemos que é humano e compreensível existir um certo pudor em nos expormos; mesmo entre pessoas que, como nós, têm já um vasto historial de inter-acção intelectual. Essa fragilidade engrandece-te em vez de te rebaixar. Estive todo o dia ausente e, ao chegar a casa, após ler o teu mail, decidi, de imediato, apesar da grande curiosidade que sentia e continuo a sentir, começar a ler só depois de responder a este mail para te prometer solenemente que vou ser completamente honesto na minha apreciação pessoal. Aliás não esperas de mim menos do que isso.
Vou ler e analisar, sem ideias pré-concebidas, com o máximo de isenção, objectividade e rigor que conseguir. Mas uma coisa te posso dizer desde já - aquilo que escrevemos está numa correlação quase perfeita com aquilo que somos e, se bem te conheço, tu nunca conseguirás escrever mal. A única forma que imagino que poderia, eventualmente, afectar o teu estilo habitual, seria o risco de ficares condicionada em função do público a quem o livro se destina. Porque, se te limitares a ser tu própria, o êxito está garantido.
Bj
....

P.S. Agora vou ler o teu livro"

fevereiro 26, 2008

Os fumadores são porreiros

Li, não sei onde nem quando, que os fumadores são mais desprendidos do dinheiro, menos forretas e, ao que parece, dão melhores gorgetas, ou seja, são uns porreiraços. Hoje assisti a mais uma demonstração disso mesmo, ou seria coincidência?
Vinha a conduzir pela E.N.14, nas calmas, quando ouço, atrás de mim, o som de uma sirene. Olho pelo retrovisor e lá estavam os tais de quem dizemos que nunca aparecem quando são precisos. Não foi o caso como vamos ver. Tentei perceber o que é que eles queriam e comecei a encostar à berma pois, se eles decidem lixar-nos, o melhor é pormo-nos a jeito. Mas a berma era estreita e, para não embarrilar o trânsito, achei melhor ir andando e parar onde houvesse mais espaço. Assim fiz, uns 200 metros mais à frente. Eles, os senhores da Brigada de Trânsito, pois está bom de ver de quem se tratava, abrandaram só para me dizer:
- Está autuado - ao mesmo tempo que fazem o gesto de quem fala ao telemóvel.
E seguiram a vidinha deles sem mais delongas. Reentrei na estrada e, por coincidência, acabei por seguir atrás deles por 2 ou 3 quilómetros. E coincidência ainda maior, acabaram por parar a menos de 50 metros do local para onde me dirigia. Nem hesitei, fui estacionar ao lado deles. Enquanto um entrava numa loja o outro saia do carro e acendia um cigarro. E, antes que pensassem que os ia multar, fui logo avisando:
- Sr. guarda, não estou a persegui-lo, eu ia a esta Escola aqui em frente e calhou os senhores pararem. Aproveitei para vir perguntar o que é que se passou porque eu não percebi muito bem.
- Já lhe dissémos que vai ser autuado. Vinha a falar ao telemóvel, aos "esses", e isso dá uma multa graúda, até pode dar apreensão de carta.
- Aos "esses"? Não me apercebi de tal mas, se o senhor o diz...
- Sim, apercebi-me eu e as pessoas que vinham comigo - Olhei e constatei que havia, de facto, mais duas pessoas no banco de trás.
- Graúda? mas quanto? - perguntei
- Cento e vinte euros
- Eh pá... mas apreensão de carta, como é?
- É uma infracção muito grave, se já tiver outras...
- Não, não tenho outras.
- Então já o problema não é tão sério.
E ele, de forma amigável, fez as perguntas típicas dos polícias - o que é que eu fazia, para onde ia... E eu respondi a tudo.
- Olhe, vá lá à sua vida e passe a ter mais cuidado.
- Ora essa, vou ter todo o cuidado do mundo.
Ele lá continuou a saborear o cigarro enquanto eu me afastava a pensar porque motivo me terá perdoado a infracção tão depressa e mesmo sem eu ter pedido nada. Seria para não se chatear enquanto fumava o seu cigarro?

fevereiro 25, 2008

O feitiço da Lua

Esta manhã, quando ia mudar a água às azeitonas, na verdadeira acepção da palavra, lembrei-me que era o primeiro dia de lua nova. Já não mudei a água, nem sequer toquei nas ditas, não vá o diabo tecê-las. Yo no credo en brujas, pero que las hay, las hay!
Desde há muito que a cultura popular manda planear o trabalho de acordo com as fases da Lua, principalmente as actividades relacionadas com as culturas e manuseamento das plantas, frutas, vinho etc.
A ignorância é atrevida e, frequentemente, quando não percebemos a relação causa – efeito, concluímos que não somos supersticiosos e, do alto da nossa sabedoria, dizemos que não acreditamos nessas tretas. Uma atitude mais humilde ficava-nos bem e levar-nos-ia a considerar a possibilidade de haver alguns fenómenos que ainda escapam ao nosso entendimento.
Qualquer um de nós, através de uma simples pesquisa na net, pode tirar as suas próprias conclusões mas parece não haver dúvidas que, além das marés, sofremos outras fortes influências provocadas pela posição do nosso satélite natural.

fevereiro 23, 2008

Sabe-me dizer, por favor…?

Hoje, ao levar a minha filha a uma festa de aniversário, à procura da rua da Estrela, pude constatar, mais uma vez, o quanto as pessoas gostam de ser prestáveis mesmo sem condições para tal. Quando se pede uma informação acerca de um endereço, se a pessoa souber, diz-nos. Claro que, frequentemente, o excesso de detalhes acaba por baralhar de tal forma que torna inútil a informação. Mas a maior dificuldade é quando perguntamos a quem não sabe mas, mesmo assim, insiste em mostrar os seus conhecimentos acerca de outras ruas ou justificar porque não sabe. Foi o que me aconteceu hoje; perguntei ao caixa do supermercado, enquanto me fazia o troco; ele não sabia mas tinha pena e insistiu em dar-me uma lição sobre a geografia da zona. Tive que lhe pedir para me dar o troco para eu poder ir perguntar a quem soubesse. Ficou desconcertado com o meu pedido.
Finalmente, quando encontrei, o dono da casa perguntou-me:
- É fácil de encontrar, não é?
- Para quem souber é fácil.

fevereiro 22, 2008

Tempo de reflexão

Desde que retomei a escrita deste blogue, no final de 2007, tenho mantido uma produção bastante regular. Até eu próprio me admiro com a quantidade de coisas que aqui fui escrevendo.
Já referi, há dias, que estava a fazer um esforço no sentido de fazer o blogue ganhar algum lanço e esperar que, com o tempo, fosse ele a puxar por mim. Isso não está a acontecer. Eu estou a puxar por ele mas ele continua a não puxar por mim.
Por um lado, é esta a avaliação que faço nesta altura, “ as coisas vulgares da vida de todos os dias” sobre as quais tenho escrito, de forma bem assumida desde o início, terão um interesse muito discutível. Por outro lado, não estando à espera de um milagre que fizesse surgir uma obra-prima, tinha alguma esperança de fazer surgir alguma discussão acerca dos temas aqui abordados. Como, até agora, tal não foi conseguido, deixarei de manter a regularidade anterior e passarei a escrever de vez em quando, usando apenas a inspiração (se ela surgir) e deixarei de lado a transpiração.

fevereiro 19, 2008

Regresso ao tabaco

O vício do tabaco é, de facto, um condicionamento muito forte e para toda a vida. Não reagimos todos da mesma forma mas, pelo que tenho constatado, mesmo após longos períodos de abstinência, o tabaco continua sempre presente na nossa cabeça. Não há dúvida nenhuma que se trata de um hábito incomparavelmente mais fácil de adquirir do que de perder.
Há quase um ano, quando eu estava apenas com quinze dias de abstinência, o meu amigo H. B., estava sem fumar havia quinze meses. Com a sua pedagogia de desvalorizar os meus quinze dias, espicaçou a minha motivação. A partir daí, a minha tentativa para parar, à medida que se estendia no tempo, foi ganhando o respeito dele e deixou de ser motivo de gozo.
Agora que ele estava já, desde há 27 meses sem fumar, as contingências da vida levaram-no a voltar a experimentar. Começou por fumar um cigarro em dias mais complicados; passou a fumar também em alturas mais conturbadas e depois nos momentos de stress que, infelizmente, têm sido muitos. Agora, ao que parece, está a começar a entrar na rotina de fumar porque sim.
Meu caro H.B., fico a torcer para que tenhas a serenidade suficiente para pensar e decidir o teu rumo antes de te deixares embalar pela onda que te está a arrastar.

fevereiro 17, 2008

Portugueses e portuguesas!

Passei os últimos dias a ouvir intervenções públicas e a irritar-me, de vez em quando, com a forma de alguns oradores se dirigirem ao auditório discriminando o masculino e o feminino dizendo, por exemplo - meus senhores e minhas senhoras!
Faz parte das regras dirigirmo-nos a um grupo usando a forma masculina para englobar todos (os senhores e as senhoras, caros e caras, amigos e amigas...).
Mesmo que haja apenas um senhor no auditório, diz a regra que se use a forma masculina.
Não consigo habituar-me a esta forma de alguém se exprimir (ou será espremer?) que já é quase uma moda. Esta redundância soa-me a discurso vazio e, no mínimo, deixa-me de pé atrás à espera que tentem vender-me alguma coisa.
Serei demasiado susceptível?

fevereiro 14, 2008

Um ANO sem fumar

Completa-se hoje um ano desde que deixei de fumar.
Em jeito de "Comemoração" dos dez e onze meses sem fumo, relatei a minha experiência aqui no blogue. Nesta altura, ao completar um ano, seria normal estar tão eufórico da "proeza" alcançada que ninguém me conseguiria aturar e, como tal, a motivação para "comemorar, escrevendo sobre o assunto, deveria ser grande. Afinal não estou com grande vontade de o fazer e vai ser mais um dever que um prazer por achar que se trata de um marco que, do ponto de vista pedagógico, como reforço da motivação, não devo desprezar. Mas posso concluir que são boas as razões que me levam a esta "indiferença". Afinal, após um ano, com a aposta ganha (lagarto, lagarto, lagarto) e o facto de não fumar, embora me deixe feliz, já habituado à nova condição, deixa-me apenas a alegria serena, quase indiferença.
No início do processo, temia o fracasso; não por falta de confiança na minha força de vontade mas por recear que, após o ímpeto inicial, quando não fumar passasse a ser uma coisa banal, deixasse de ter uma causa tangível para a minha luta. Felizmente os meus receios não se confirmaram. Tenho de concluir que também aqui se aplica a 3ª lei de Newton - a acção (vontade de fumar) é igual à reacção (força de vontade para lhe resistir). Mas o processo é dinâmico e, com o tempo, esta equação desfaz-se e o fiel da balança começa a jogar, cada vez mais, a nosso favor - por um lado a vontade de fumar diminui e, por outro, a motivação aumenta através da satisfação pessoal que acompanha o sucesso.
Em jeito de autoavaliação devo dizer que esta mudança me trouxe quase só coisas boas. As más estão ultrapassadas e são apenas as que se prendem com a angústia inicial gerada pela mudança de hábitos. E não me parece que a parte mais difícil tenha sido a ressaca pela ausência de nicotina no organismo. Penso que a mudança de hábitos relacionados com o ritual de gestos associados ao acto de fumar, foi, no meu caso, a parte mais difícil. Mas até nem posso dizer que me tenha custado muito. Tomada a decisão de retirar o tabaco da ementa, após os factos relatados em Faz hoje dez meses, não me lembro de, alguma vez, ter tido uma tentação suficientemente forte que exigisse um grande esforço para lhe resistir.
Mas, afinal, o que mudou com a nova condição?
As mudanças são pouco visíveis porque, além de saudável, sempre estive numa forma física razoável mas, mesmo assim, são mais do que estava à espera:
• Condição física melhorada na generalidade dos indicadores.
• Pulsação em repouso desceu para 54 batimentos p.m.
• Idade metabólica (dizem os técnicos) - 44 anos.
• O peso aumentou 2 kg - nunca fui gordo e toleraria mesmo um aumento mais acentuado. O aumento deveu-se, predominantemente, ao acréscimo de massa muscular por efeito do treino mais regular.
• Tosse frequente desapareceu
• Rouquidão e fadiga precoce da voz desapareceram, aspecto muito importante para quem a voz, como é o meu caso, é ferramenta de trabalho.
• Congestionamento das vias aéreas respiratórias que, frequentemente, me perturbavam a inspiração e, por vezes o sono, desapareceu.
• Durmo muito melhor e acordo mais repousado.
• Do ponto de vista psicológico os efeitos são enormes - a sensação de bem-estar com a auto-estima bem alta acompanha-me permanentemente e faz de mim uma pessoa mais feliz, tolerante, paciente e disponível.
• Ah, e já me esquecia, outro efeito nada negligenciável - estou mais rico! Com o dinheiro que deixei de gastar (cerca de 1.725€) juntei-lhe uns trocos e fiz um PPR no valor de 1.750 euros.
• Além de tudo isto, as limitações ao direito de fumar, agora mais acentuadas com a entrada em vigor da nova lei, deixaram de me incomodar.

Parece que fiz o melhor negócio do mundo com o qual estou de facto muito satisfeito.
Daqui por um ano, prometo nova crónica.

fevereiro 13, 2008

Roubo e gozação

Diz o «Correio da Manhã» que Fátima Felgueiras pagou parte das despesas do exílio no Brasil com dinheiro da câmara municipal de Felgueiras.
Ignorou um mandado do Tribunal de Guimarães que ordenava a sua prisão preventiva e viajou para o Brasil. Para compôr o ramalhete, com o pêlo do mesmo cão, não só desobedeceu à nossa Justiça como nos pôs a pagar a factura do advogado que evitou a prisão preventiva e consequente extradição. Documentos citados pelo «Correio da Manhã» demonstram que a autarca assinou cheques na ordem das centenas de milhar de euros da câmara para se pagar a si própria e aos seus advogados.
Vale tudo? Que confiança podemos ter nos nossos legisladores e nas leis que fazem ou deixam de fazer permitindo que o nosso País seja gozado desta forma?

fevereiro 12, 2008

Apito acelerado

Está visto que a morosidade da justiça é tanto culpa dos juízes como o estado do ensino é culpa dos professores ou o funcionamento da administração pública é culpa dos funcionários públicos ou o estado...
Graças ao desempenho do juiz, o julgamento acabou mesmo por iniciar-se apesar das dúvidas sobre o tal pormenor processual que se previa que viesse a causar mais um adiamento
Mesmo assim, um dos advogados adiantou que vai recorrer desta decisão, reclamando do "excesso de celeridade" e argumentando que não deveria ter sido o juiz do julgamento a dar seguimento à ordem do Tribunal da Relação. Além disso, considerou que o "excesso de celeridade" no início do julgamento do processo provocará, provavelmente, inconstitucionalidade em alguns actos processuais.
- Excesso de celeridade - disse ele!
Em função da capacidade da sala de audiências, depois de introduzir um representante por cada por órgão de comunicação social restaram apenas 11 lugares para contemplar os populares que, nesta situação, aparecem sempre para ver o circo. Mas, ao que parece, os candidatos a um lugar na plateia também não eram muitos... Será que o assunto já deu o que tinha a dar e, depois de ser "julgado" nos meios de comunicação social, o julgamento no tribunal já perdeu todo o interesse?

fevereiro 10, 2008

Apito parado

Parece que o julgamento do apito dourado ainda não é desta que vai começar.
Passados quatro anos, com enormes recursos ali concentrados, milhares de euros gastos e tudo continua parado.
Primeiro foram as sete escutas telefónicas apagadas que atrasaram. A defesa preferia as obras completas e entendeu que não deviam ter sido apagadas sem o seu consentimento. Esta de os réus não deixarem apagar não percebi. Terá a ver com direitos de autor, visto que as vozes gravadas eram deles?
Agora, segundo dizem, o motivo do adiamento (ou será o pretexto?) prende-se com uma assinatura que faltava mas que já não falta desde Março; porém, para o efeito, faz-se de conta que falta pois, se não fosse a assinatura, lá haveria de aparecer outro motivo e, pelo sim pelo não, adia-se para cumprir a tradição.
Até parece que as coisas iam começar a andar com as audiências a realizarem-se todos os dias úteis, ao ritmo de quatro sessões semanais, mesmo à sexta-feira. Até mesmo à sexta-feira, imagine-se. Só não sei como é que fizeram as contas para terem quatro sessões em cinco dias úteis.

fevereiro 09, 2008

Onde pára o simplex?

Os pequenos artesãos, depositários dos saberes tradicionais, passados de geração em geração, estão a desaparecer. Os cestos de vime, os socos de madeira, as meias de lã, as peças de olaria, os capotes de palha, os pequenos objectos de toda a espécie, passarão a ser apenas uma lembrança. Em recente reunião de operadores de turismo, realizada em Montalegre, acerca da Carta Europeia do Turismo sustentável fiquei a saber que a mesma legislação que era suposto proteger e enquadrar a actividade dos pequenos artesãos acaba, ao invés, por lhes dar o golpe de misericórdia. Diz o sítio Web do IAPMEI que a Comissão Nacional para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais considerou fundamental propor ao Governo a aprovação do estatuto do artesão e da unidade produtiva artesanal, que, designadamente, institui os respectivos processos de acreditação.
Suponho que compete a essa tal Comissão para a Promoção dos Ofícios fazer aquilo que o seu nome indica. Pelo que vejo, não tem desempenhado eficazmente o seu papel visto que a produção dos pequenos artesãos, muitos deles a exercer a sua actividade em tempo parcial, frequentemente ao serão ou enquanto guardam os rebanhos, está a desaparecer. As citadas burocracias transformam-se em constrangimentos que os pequenos artesãos não sabem ou nem estarão interessados em ultrapassar, preferindo abandonar a sua arte a ter que fazer face a esses entraves. Suponho que o estado, ao regular a actividade, é assim que lhe chamam, pretendia, tão só, ir sacar o seu com a aplicação dos impostos da praxe. Infelizmente não vai sacar coisa nenhuma e todos ficaremos mais pobres.

fevereiro 08, 2008

As virgens ofendidas

O director da PJ, em entrevista na tv, admitiu ter havido precipitação quando Kate e Gerry McCann foram constituídos arguidos.
Até aqui tudo bem, a liberdade de expressão é para todos. O homem tem todo o direito de dar a sua opinião e deu-a. Certo?
Quem se sentiu atingido tem todo o direito e liberdade de responder se assim o entender e tiver oportunidade para tal. E ponto final! Certo?
Errado, Sr Alípio Ribeiro, o senhor ainda deve estar, a esta hora, a ver e rever as suas declarações para tentar perceber no que se meteu. Vejamos alguns exemplos das reacções suscitadas:
• O juiz desembargador Eurico Reis diz que o Director Nacional da Polícia Judiciária "não mediu a gravidade das suas declarações"
• O deputado Nuno Melo disse que Alberto Costa não devia demitir Alípio Ribeiro mas sim dar explicações sobre as polémicas declarações
• Santana Lopes admite que ficou "surpreendido e considerou que só "razões muito fortes" podem explicar as declarações
• Foi pedida a opinião do Presidente da República que se escusou a comentar
• O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público criticou os responsáveis de organizações que falam sobre processos pendentes.
• O ministro da Justiça manifestou-se disponível para prestar declarações no Parlamento sobre as polémicas declarações.
• Marcelo Rebelo de Sousa considerou «gravíssima» a declaração do director da Judiciária
• Jorge Coelho considerou que as declarações de Alípio Ribeiro foram infelizes

Em jeito de desabafo - as declarações poderão ter sido infelizes e inoportunas e terem desagradado a alguns mas…
. As reacções não serão exageradas?
. Não estarão estas eminências pardas, a fazerem-se de virgens ofendidas, sempre prontas a chafurdar nas fraquezas alheias, aproveitando todos os pretextos para chamar a atenção mesmo que seja discutindo o sexo dos anjos?

fevereiro 07, 2008

Entregar o ouro ao bandido

Segundo dados compilados pela Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira, entre 2002 e 2005, quase metade das investigações da Polícia Judiciária sobre corrupção estão relacionadas com autarquias locais. E mostram que, em 2005, o número de processos de corrupção que saiu deste departamento com proposta de acusação aumentou significativamente.

É hoje notícia que o governo se prepara para descentralizar competências e entregar mais dinheiro às autarquias locais.

A Associação Nacional dos Municípios Portugueses já emitiu um parecer favorável, ai não, à vinda de mais dinheiro e mais competências para as câmaras - gestão, construção e manutenção das escolas do Ensino Básico. Falta apenas acertar alguns pormenores com o Governo para que o decreto vá a Conselho de Ministros, o que acontecerá até ao fim do mês.

Mas isto não será entregar o ouro aos bandidos?
Será por estas e por outras que os políticos, de acordo com estudo realizado recentemente, são a classe que merece menos confiança?

fevereiro 06, 2008

Justiça à portuguesa

Hoje foi notícia que a equipa de coordenação do processo Apito Dourado vai investigar Jorge Nuno Pinto da Costa por mais três anos, num processo catalogado por crimes fiscais e de branqueamento de capitais.
E eu questiono:
Qual é o interesse para a averiguação dos factos de se pôr a circular esta notícia, seja verdadeira ou seja falsa?
Mas porquê três anos? Pretende-se, de facto, investigar ou empalear por um determinado período de tempo, três anos neste caso?
Desde quando é que as investigações se fazem por um período de tempo e não em função dos indícios em causa?
E não terminam quando se conclui da existência ou não de ilícitos?
E se, em pouco tempo, se concluir que o homem está inocente? Vão, mesmo assim, andar encima dele até se esgotarem os três anos?

fevereiro 04, 2008

Sementeira

Hoje dediquei-me à sementeira.
Num germinador semeei bróculos e também plantas aromáticas - orégãos, salsa, tomilho, segurelha e coentros. Noutro tabuleiro semeei couve penca da Póvoa, cebola branca de Lisboa, tomate marmande extra e tomate coração de boi.
Comecei por colocar turfa, quase até cima, calquei um pouco, coloquei uma semente em cada favo, cobri com mais turfa, reguei com muito cuidado e coloquei os germinadores na estufa.
Agora é só esperar que o milagre aconteça e ir espreitando ansiosamente para ver a vida a despontar da terra. Esta fase, como na vida em geral, é, sem dúvida, a mais agradável e emocionante de todo o processo - esperar o nascimento de novas vidas.
Dentro de três dias teremos outra vez a lua nova, esperemos que não haja influências negativas.

fevereiro 03, 2008

Profissão: Formando

Fiquei a saber, há dias, que existe, se não como profissão, pelo menos como ocupação de longa duração, a situação de – formando. Em reunião do sector do turismo em que estive presente com vários operadores, equacionava-se a necessidade da oferta de formação. Foi constatada a sua pertinência mas alguém alertou para o facto de aparecer sempre muita gente para a formação mas a maior parte dos candidatos não querer trabalhar e estar interessado apenas na formação.
Como é?
Falei com outras pessoas que me confirmaram o que eu não acharia possível, mas sim, é isso mesmo.
Parece que há entidades que existem para fazer formação e têm uma bolsa de clientes habituais, sempre dispostos a colaborar. Segundo me disseram, há sempre interessados em receber a bolsa de formação + subsídio de almoço + deslocações + subsídio para infantário, se for o caso. Além de não terem necessidade de "dar o litro", com a falta de ambição que, inevitavelmente caracteriza quem opta por tal "profissão", fica composto o quadro que, pelos vistos, se vai mantendo com a aparente complacência de quem deveria moralizar tal situação.
Também soube que o controlo, que também existe, é uma excepção e não uma regra, o que tem permitido alimentar este fenómeno verdadeiramente lamentável de desvirtuar um potencial factor de desenvolvimento transformando-o num objectivo em si próprio.

janeiro 31, 2008

Somos aquilo que comemos

"Não sou esperto nem bruto
Nem bem nem mal educado
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado"

António Aleixo
Ao ler um artigo sobre nutrição com o título «Somos aquilo que comemos», extrapolei da nutrição para a socialização e respectivo processo de formação dos cidadãos que somos. E podemos concluir que, também neste capítulo "somos o que comemos". E isso fez-me evocar um texto que escrevi, há já uns anos, e que continua actual e aqui colo, com algumas adaptações:

O nosso país sofre de um mal de letargia endémica. É uma autêntica pescadinha de rabo na boca a produzir e reproduzir os males e malefícios que nos vão afundando cada vez mais. Os cidadãos do país que deu «novos mundos ao mundo» não são, em nada, inferiores aos seus pares de outros países que, em quase todos os rankings olhamos de baixo para cima. A sucessão de governos que fazem de conta que governam transformou-nos num autêntico cemitério onde os mortos-vivos pululam e vão fazendo de conta que estão vivos e se movimentam, ao sabor da maré, sem chama e sem entusiasmo.
Tudo se resume a uma postura derivada de uma mentalidade que se foi construindo de equívoco em equívoco e que deixou a generalidade da população sem moral e sem objectivos. E o exemplo que vem de cima não nos recomenda. O Estado não garante a justiça e a execução das leis; não nos respeita nem tem uma atitude pedagógica no trato com os cidadãos, não é pessoa de bem, não paga a horas mas exige de nós de forma unilateral. Os nossos governantes e gestores públicos esquecem-se que estão num país pobre em que a generalidade da população tem carências de toda a ordem mas não prescindem (os detentores do poder) de esbanjar o que nos sacam em todo o tipo de benesses e mordomias como reformas chorudas e precoces, automóveis topo de gama, assessores aos montes...
O modelo de cidadão que temos no nosso imaginário colectivo é um consumista, com um bom carro, férias no estrangeiro, tudo do bom e que ganha muito dinheiro e trabalha muito pouco. E para obter isto vale tudo - endividamento, fuga aos impostos, falcatruas, corrupção... E a base que devia suportar estas aspirações - a dedicação ao trabalho e a produtividade consequente não são possíveis. Porquê? porque as empresas não investem porque não podem, não querem ou não sabem e os trabalhadores são mal pagos e estão descrentes e como tal não pode haver sucesso. Para manter o nível de vida que ambicionamos, fazemos mais umas coisas por fora. Os polícias conduzem um táxi ou fazem segurança, os professores dão explicações, os políticos fazem umas habilidades, o mecânico, o trolha, o picheleiro, etc fazem mais uns biscates, outros vendem seguros, apartamentos ou tuperwares, os administradores de empresas acrescentam mais umas quantas ao rol, os médicos desdobram-se como podem, etc. Enfim todos tentam desenrascar-se para fazer face ao consumismo vigente. E, claro que assim não podemos render na nossa actividade principal e, mesmo aqueles que se encontram motivados e tentam desenvolver um trabalho sério acabam por ser apanhados nas malhas do marasmo e a duvidar se é assim que deve ser ou se não deverão fazer como os outros que se desenrascam e «têm sucesso». E a nossa juventude, imbuída desse mesmo espírito, não se dedica seriamente ao estudo e não pode ter sucesso. E o insucesso leva ao abandono escolar e à iliteracia generalizada, entrada precoce no mundo do trabalho e falta ou inexistência de quadros técnicos ou baixa qualificação profissional. E, como o trabalho não nos realiza, temos baixa auto-estima e vamos para a estrada procurar a realização, armados em reis, com as consequências que sabemos. E a baixa produtividade estende-se à saúde, justiça, fiscalidade e temos o quadro que bem conhecemos.
Quando sairemos disto?