abril 01, 2008

Lição de Biologia para biólogos

Estava a curtir um período de menor pujança na actualização do blogue quando o meu amigo Xo_oX veio desafiar-me, questionando-me sobre a hora a que rego as alfaces e os tomates.
Com quem ele se foi meter! E logo no que respeita aos tomates e às alfaces pois, não é para me gabar, mas costumo ter, de ambos, os melhores cá do sítio.
Então, fica a saber que não viro a cara à luta e vou esgrimir argumentos contigo no teu próprio terreno, salvo seja.
A rega deve ser sempre de manhã por várias ordens de motivos e cuja preponderância é diferente, de acordo com a estação e a temperatura. Fica sabendo que as plantas precisam, para a reprodução celular, vulgo crescer e amadurecer, o mesmo que nós, nutrientes, energia e água. Deves regar de manhã porque:
- No tempo mais frio, ao regar no final do dia correrias o risco de a água fria as privar do calor/energia que acumularam e de que precisam para o seu crescimento/desenvolvimento. As pessoas de Brunhoso já descobriram isso há muito tempo e as leiras mais delicadas, no tempo frio, eram regadas, de manhã, com água amornecida, ligeiramente quebrada da friura, como se dizia. Deves então regar de manhã quando a planta ainda está fria e a perda de energia é desprezível.
- Com tempo quente, deves igualmente regar de manhã para evitares o choque térmico que aconteceria se deitasses água fria quando a planta está quente. Nenhuma planta gosta destas mudanças bruscas e algumas, nomeadamente as couves, reagem a este tratamento e ganham a chamada potra com formação de tubérculos nas raízes.
Nos últimos anos tenho usado a rega gota a gota que, além de outras vantagens, em virtude da pequena quantidade de água que vai sendo debitada, minora grandemente os inconvenientes citados.
E só para completar a informação, as alfaces rego-as frequentemente, os tomates rego-os com muito pouca frequência. E, já agora, as alfaces são dos poucos vegetais que gostam de água na folha. Os tomates, como a maioria dos restantes, querem-na apenas no pé e as folhas nunca devem ser molhadas, senão tens o míldio à pega.
Mais alguma coisa? É só pedir.

7 comentários:

aix disse...

Caro Xeringas: já vi que de regas é consigo, sabe "regar" como ninguém. Agora aí há duas teorias: a teoria da ciência e a teoria da experiência.O meu Amigo bem pode falar em reprodução celular,
nutrientes, energia, choques térmicos e outras modernices mas os nossos pais e avós(meus e seus)regavam quando tinham água. Eles até diziam que era melhor regar à tardinha, que a terra conservava mais a sessão durante a noite.É o que acontece na minha horta, plantada em terreno arenoso. Mas concordo em que não regue os seus tomates só pela rama, pois precisam de água abundante para ficarem que se vejam. Já agora um conselho(empírico):plante-os em quarto-crescente,crescem mais!
Grande abraço.

Zé Ruela disse...

Meu caro Aix, claro que isto são as condições ideais e sobre as quais o Xeringador faz questão de insistir porque é o seu papel institucional mas é óbvio que, embora não sendo utópicas, não são fáceis de respeitar integralmente. Claro que, na prática, rega-se quando se pode tentando não ir muito contra os princípios enunciados.
E, touché, mais importante que os aspectos cognitivos teóricos da ciência é a vivência quase instintiva dos processos por parte de quem detem os saberes adquiridos pela experiência, própria e herdada.
Vou experimentar a receita de plantar em quarto crescente. É uma vergonha o Xeringador confessar que normalmente planta no dia em que vai comprar as plantas à feira, respeitando apenas os dias de lua nova. Como este ano semeei quase tudo em germinadores, irei respeitar as fases da lua com mais rigor.

AG disse...

A conversa está interessante, mas devo confessar o meu desconhecimento das regras cientificas e do senso comum, no que toca a cultivo. De algum tempo para cá tornei-me recolector (de imagens). De vez em quando também rego, mas não de gota a gota, gosto mais de encharcar tudo à mangueirada. Diz-me quando devo comprar o cebolo para a horta. O da Vilariça é muito bom e está próxima a feira dos 15. Será que é altura ideal?

Zé Ruela disse...

Caro Xo_oX, nem sei o que te devo aconselhar sobre o cebolo. Com esse teu jeitinho para a agricultura acho que o melhor para ti, para o cebolo, para os recursos hídricos, para o ambiente e para o mundo em geral era melhor ficares quietinho e deixares essas coisas para quem sabe. Mas talvez aí em casa encontres quem te dê umas luzes. Não te esqueças que no próximo domingo entra a lua nova, mas acho que isso para ti não faz qq diferença.
Um abraço e boa agricultura.

aix disse...

Excelentíssimo xeringas,
Mandar o Senhor Xo estar quietinho e deixar para quem sabe (ele que noutras paragens até é Biólogo = que trata da Vida) é mil vezes mais arrojado do que mandar-me a mim p’rás urtigas (este ano tenho lá muitas). Assim, para cientificar o meu ignaro plantado hortícola recorro, com humildade, ao Mestre Xeringador (este ano só comprei o Borda d’Água, não fui ao Porto para trazer o Seringador). A situação é esta:
-Batatas – plantadas e saudáveis (só as rego por pé, embora sentado devido à idade)
-Cebola – duas leiritas com cebolinho de viveiro meu (pegadinhas)
Que fazer em relação a : tomate – pimento – feijão – abóbora – melão –melancia –pepino –cogette (não sei se é assim que se escreve). (Ah!, também queria colher cabaças – de vinhar).
Informações úteis para o consultor:
1-O clima lá é muito parecido com o de uma aldeia trasmontana, Brunhoso, se não conhece pergunte, tem site e, sobre a rega leia lá um parecer do dos Zambujeiros.
2-A água é abundante.
Bem haja pela sua prestimosa ajuda. Deus lhe acrescente.
(Pode mandar a conta por correio, sem IVA que eu não digo nada ao Sr. Ministro, na condição de que só pagarei se não se perder um único exemplar plantado!)
Respeitosos comprimentos de
Aix, que sim estou de agradecido

Zé Ruela disse...

Caro Aix, desculpe a demora em responder às suas questões mas, em alturas de plantar, não sobra muito tempo para o laréu.
Mas, desculpe se o desiludo, não lhe vou dar qualquer dica a respeito das culturas. Quem se atreve, da forma que descreve, com todo esse navego não precisa de conselhos nem do borda d´água nem do xeringador. Está muito à frente e, como tal, tem direito a interpelar os experts com o à vontade dado pelo savoir faire de quem está "inter pares".

Jorge Pimentel disse...

Amigo Xeringas!
Não sou grandemente dado às artes agrícolas, mas aprecio a dedicação, o gosto e o resultado pelo que me atrevo à suprema missão de provar, na devida altura, o afamado produto da horta.
Já agora… Sem querer trilhar grandes caminhos gastronómicos atrevo-me a sugerir uma pequena associação – ao apaladado azeite das terras transmontanas, o aroma de manjericão fresco – nas proximidades da tradição de outras terras, as transalpinas, onde ao povo também é dado aos prazeres do paladar.