dezembro 02, 2008

Przednówek

A propósito do tempo frio e da terra coberta de neve fiquei a saber, através de uma colega polaca, que no seu país existe uma palavra, przednówek, que designa o período mais ou menos longo que se situa por volta de Janeiro, Fevereiro e Março - desde que começam a escassear os víveres da última colheita até ao final da invernia que não permite retirar da terra seja o que for.
Entre nós, temos um provébio que diz: "do cerejo ao castanho bem eu me amanho, do castanho ao cerejo, mal me vejo". Ou seja, de Junho a Novembro, está tudo bem, mas daí até Junho as coisas piam mais fino.
Eu achava que este provérbio era pouco mais que folclore e não tinha consciência da real dimensão do problema. Inclusivamente, quando a minha filha estava para nascer, a minha sogra disse - Oxalá que não nasça em Março! Eu, à luz da realidade actual, achei um perfeito disparate o seu desabafo. Mas ela lá tinha as suas convicções para achar que uma criança nascida em Março não tinha grandes hipóteses de sobreviver. A história tinha-lhe transmitido esta sabedoria que, embora desactualizada, tinha a sua justificação.
De facto, quando se dependia das colheitas próprias, sempre incertas, o período em causa poderia tornar-se um verdadeiro pesadelo.
O mundo actual, verdadeira aldeia global com fluxos constantes de bens de consumo em todas as direcções, faz-nos esquecer tempos terríveis nada longínquos.
Neste particular, a Polónia, com invernos longos e rigorosos e uma história repleta de ocupações e anexações por outros paises cujos governos, na qualidade de ocupantes não primariam pela solidariedade para com os vencidos, o przednówek era um período negro com a fome a fazer verdadeiras razias na população.

1 comentário:

Anónimo disse...

É verdade, também nós tínhamos o nosso «przednówek» (gostava da saber como se diz, mas não tenho colega polaca) ou tempo de larica, agora mais mitigado pela rapidez do transporte e pelas técnicas de conservação dos alimentos. Apesar de as nossas condições climatéricas serem substancialmente
melhores do que as da fria Polónia, o mês de Março era, entre nós, um pesadelo. O povo caracterizava-o com a lenga-lenga: “Março, marçaço, tira a pela à vaca e a aguilhada ao lavrador e o surrão ao pastor e o porco cuim-cuim e o porqueiro ai de mim”. Não sei se não haveria também alguma falta de ousadia: eu (e muitos outros) vou ter batatinhas lá para Fevereiro, que darão seguramente até Março. Mas é certo que o ditado se aplicava também à escassez de comida para os animais. Para mim ainda hoje é o mês mais antipático, agora mitigado por ser o do aniversário da Zèquita! Quanto a polaco(a)s é pouco significativa a sua presença em Portugal. Registe-se, contudo, a vinda para o nosso distrito de Bragança do padre polaco frei Casimiro Wyszynski que, em 1754, criou o Convento de Balsamão para instalar a Congregação dos padres Marianos, fundada em 1673. Estão lá agora umas belas instalações turísticas, que recomendo sobretudo a quem gosta de se concentrar e repousar em local ameno e convidativo à reflexão.