janeiro 18, 2008

Brunhoso à luz da candeia

O Xeringador faz aqui uma vénia ao Zamit pelo texto que colo em baixo, colocado na página de Brunhoso. Parabéns ao Zamit que eu desconfio quem seja mas... só posso ter a certeza quando ele o confirmar! Espero que se dê rapidamente a conhecer para lhe dar os parabéns pela excelente reconstituição de uma época em que o Seringador desempenhava o seu papel veiculando novidades e, não menos importante, para que este texto não continue órfão de autor.

"Naquele tempo a autoridade não se discutia. Era Deus no céu e Salazar em Lisboa. O Presidente da Câmara era um Doutor rico e importante (já o pai dele tinha sido) que estava lá por ser amigo dos dois anteriores e cuja missão era só zelar pelo seu respeito. Em Brunhoso havia um Presidente da Junta que administrava sem reclamações, embora as calçadas das ruas estivessem cada vez mais esburacadas, os caminhos da ladeira eram carreiros, não havia saneamento, nem electricidade, água havia nas bicas e nas fontes. Os indígenas nunca tinham conhecido melhor ou já não se lembravam e as autoridades, distantes e omnipotentes, não admitiam protestos. Havia um Regedor que, tal como o Presidente da Junta, nada fazia, pois as pessoas eram pacíficas e resolviam os pequenos choques e divergências entre eles, por vezes à lambada e ao pontapé. O padre Zé era a autoridade religiosa e a única que mostrava algum serviço. Fazia os batizados, casamentos e funerais sem cobrar nada por isso. Era um homem bom, rico, teimoso e virtuoso. Vivia rodeado de 3 ou 4 mulheres e nunca se lhe conheceu filho algum. Rezava as missas, a que era obrigatório assistir aos domingos, sob pena de pecado mortal ou de se ser apelidado de protestante ou comunista, o que para o povo eram a mesma coisa. Homens à frente mulheres atrás, todos cumpriam a sua obrigação, com mais devoção as mulheres pois habitualmente só elas comungavam (as mulheres foram sempre mais pecadoras). O padre Zé além de dar o dinheiro dos responsos aos rapazes que o ajudavam à missa, dava cigarros a muitos homens, a alguns passou-lhes o vício (era no tempo em que o tabaco não fazia mal às pessoas). A autoridade máxima dos garotos era a professora, imponente,competente e altiva, ensinou-lhes a matemática, a gramática, a geografia e as vénias do salazarismo. Brunhoso vivia em paz, miséria (quase todos) e harmonia, pelo menos desde há 500 anos atrás, pois que conste as Invasões Francesas não passaram por lá. Até ao Entrudo! A procissão ainda vai no adro e o Jacob leva o estandarte maoior!

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