
Vinha a conduzir pela E.N.14, nas calmas, quando ouço, atrás de mim, o som de uma sirene. Olho pelo retrovisor e lá estavam os tais de quem dizemos que nunca aparecem quando são precisos. Não foi o caso como vamos ver. Tentei perceber o que é que eles queriam e comecei a encostar à berma pois, se eles decidem lixar-nos, o melhor é pormo-nos a jeito. Mas a berma era estreita e, para não embarrilar o trânsito, achei melhor ir andando e parar onde houvesse mais espaço. Assim fiz, uns 200 metros mais à frente. Eles, os senhores da Brigada de Trânsito, pois está bom de ver de quem se tratava, abrandaram só para me dizer:
- Está autuado - ao mesmo tempo que fazem o gesto de quem fala ao telemóvel.
E seguiram a vidinha deles sem mais delongas. Reentrei na estrada e, por coincidência, acabei por seguir atrás deles por 2 ou 3 quilómetros. E coincidência ainda maior, acabaram por parar a menos de 50 metros do local para onde me dirigia. Nem hesitei, fui estacionar ao lado deles. Enquanto um entrava numa loja o outro saia do carro e acendia um cigarro. E, antes que pensassem que os ia multar, fui logo avisando:
- Sr. guarda, não estou a persegui-lo, eu ia a esta Escola aqui em frente e calhou os senhores pararem. Aproveitei para vir perguntar o que é que se passou porque eu não percebi muito bem.
- Já lhe dissémos que vai ser autuado. Vinha a falar ao telemóvel, aos "esses", e isso dá uma multa graúda, até pode dar apreensão de carta.
- Aos "esses"? Não me apercebi de tal mas, se o senhor o diz...
- Sim, apercebi-me eu e as pessoas que vinham comigo - Olhei e constatei que havia, de facto, mais duas pessoas no banco de trás.
- Graúda? mas quanto? - perguntei
- Cento e vinte euros
- Eh pá... mas apreensão de carta, como é?
- É uma infracção muito grave, se já tiver outras...
- Não, não tenho outras.
- Então já o problema não é tão sério.
E ele, de forma amigável, fez as perguntas típicas dos polícias - o que é que eu fazia, para onde ia... E eu respondi a tudo.
- Olhe, vá lá à sua vida e passe a ter mais cuidado.
- Ora essa, vou ter todo o cuidado do mundo.
Ele lá continuou a saborear o cigarro enquanto eu me afastava a pensar porque motivo me terá perdoado a infracção tão depressa e mesmo sem eu ter pedido nada. Seria para não se chatear enquanto fumava o seu cigarro?
3 comentários:
Xeringador,
Não te podes queixar!
Ainda há gente boa, até nas autoridades ;)
Abraço
Caro xeringas, deste episódio trági-cómico podem-se fazer várias leituras:
-que não se deve usar o telemóvel quando se conduz
-que tanto não cumpriu a lei o perdoado como o guarda perdoador
-que ser profe compensa(pese embora a actual contestação).
-que o guarda perdoador era fumador mas se o não fosse poderia não ser multador
-que o guarda (fumador) não sabia se o multado era ou não fumador
-que se o perdoado fosse fumador o guarda multador poderia não ser perdoador
-que se o multador (fumador)fosse «porreiraço» teria perguntado ao multado:você é fumador?
-que se o multador (fumador)multasse em função de o ainda não multado ser ou não fumador então o multador (fumador)não seria «porreiraço» mas injusto
-que se o multado tivesse seguido por outra via este multador não o teria multado
-idem para o multador (fumador)
Conclusão:que não se conclua levianamente que os fumadores são «mais porreiraços»que os abstémios.Não quererá o meu Amigo justificar uma retoma?
Um grand’abç e evite recaídas(no fumo e no telélé)
Caro Aix, fartei-me de rir com as divagações filosóficas, perdão, ilacções.
Mas tenho que rebater algumas conclusões:
- Eu sei que o caso em aprêço, por si só, não permite chegar à conclusão do título. Apenas coloquei este exemplo sob a mesma luz do estudo que mencionei.
- A conclusão a que chegou acerca da minha profissão é sua.
- Não, de maneira nenhuma estou a justificar uma retoma.
- Obrigado pelo conselho e pela força que me transmite.
- Prometo que, de futuro, irei resistir com mais firmeza aos apelos do telele. Para resistir ao tabaco tem chegado a firmeza habitual.
P.S. Hoje, em Vila Real, apanhei uma multa de estacionamento. É sempre a mesma história, onde estão os polícias fumadores quando precisamos deles?
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