Estive ausente da internet, em viagem, durante os dois últimos dias. Fui "fazer" o azeite. E, se a colheita costuma ser pretexto para festa, este ano não foi o caso. A qualidade acabou por ser a maravilha do costume (acidez 0,2) mas a quantidade fez-me equacionar se valeria a pena apanhar a azeitona pois dificilmente o valor do azeite iria equilibrar os custos da apanha. Quando perguntei à minha irmã se não seria melhor esquecer a apanha. Ela respondeu, de imediato:
- Nem penses nisso, a azeitona é para apanhar. Se este ano tiveres prejuizo, paciência, aguenta-te. Tiveste lucro no passado e voltarás a ter no futuro para equilibrar este ano mau.
Claro que acatei de imediato o conselho dela, pessoa sábia e sempre solidária. Além disso, a sua condição de agricultora praticante dá-lhe a autoridade e o saber a respeito destas questões. E depois fiquei a pensar na grande lição que me foi ensinada: A decisão de apanhar ou não apanhar a azeitona não pode ser encarada como uma questão meramente contabilística. É uma autêntica pescadinha de rabo na boca, um contrato não escrito mas implícito em que cada um tem de cumprir a sua parte. Eu preciso das pessoas que me apanham a azeitona e elas, por sua vez precisam de ganhar dinheiro para viver e comprar e manter as máquinas e restantes equipamentos. E, se a sua actividade não for rentável, deixá-la-ão e todos ficaremos a perder. Então, quando a colheita for "o comido pelo servido" ou, pior ainda, se houver "mais prejuizo que ganância", aplica-se o aforismo popular - É preciso juntar as verdes com as maduras - Oh se é!
dezembro 23, 2007
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2 comentários:
Meu Amigo:
Afinal deparaste-te este ano com aquilo com que se deparam a grande maioria dos agricultores portugueses: o produto da colheita já nem para a apanha dá, quanto mais para o resto das despesas. Não sei se será a nossa Sina mas parece que os agricultores portugueses terão de converter-se a médio prazo em pobres jardineiros dos luxuosos condomínios habitados por europeus ricos. Não me entra na caximónia como é que noutros países apesar das pessoas auferirem ordenados muitos melhores as coisas dão e em Portugal as coisas não dão. Dizem os entendidos que é falta de produtividade. Mas falta de produtividade não é sinónimo de preguiça pois a AutoEuropa é uma fábrica com 98 ou 99% de operários portugueses e é uma das mais rentáveis da VW; por outro lado os portugueses no estrangeiro são vistos como trabalhadores pacíficos, obedientes e produtivos, ou seja em casa de ferreiro espeto de pau. Talvez seja mesmo uma questão de liderança, ou seja não há quem saiba mandar. Os empresários não têm formação para patrões e em vez de modernas máquinas e melhores salários preferem apostar nos salários de miséria e empatar dinheiro nos Porcshes e nos Ferraris. Voltando à azeitona, não sei como fazes aí a apanha mas não poderias ir por um sistema de meias? Ou seja tu davas as oliveiras, as pessoas davam o trabalho e depois dividiam o azeite ao meio? Fica bem, Boas Saídas e Melhores Entradas!
Meu caro Barbaçana se a colheita me dá prejuizo mesmo ficando com a totalidade da azeitona, imagina o rico negócio que faria alguém que tivesse que apanhar e depois ainda ter que dividir a meias! Aceitarias um negócios desses?
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