dezembro 14, 2007

Faz hoje dez meses


Faz hoje dez meses que parei de fumar.
Passei quase toda a minha vida adulta como fumador, com a fama mas nenhum proveito.
Nunca cheguei a sentir os malefícios do tabaco ou, enquanto fumador, pensava que não os sentia. Como a quase totalidade dos fumadores, tencionava parar um dia e, também como acontece com a maioria dos ditos, as coisas iam-se arrastando e a decisão ia sendo sucessivamente adiada.
Penso que raramente haverá apenas um motivo para nos fazer parar mas, em determinado momento do percurso, todos os fumadores terão um ponto de viragem que os conduzirá a esta decisão.
Nos dias 6 e 7 de Outubro de 2006, hospitalizado para uma pequena cirurgia ao ombro (ruptura do supra-espinhoso), mal saído da anestesia, ainda com o dreno e o soro, toca de procurar um local onde pudesse dar umas passas. E o local foi a escadaria de acesso ao terraço. Enquanto fumava, às escondidas, tomei consciência da forte dependência e da necessidade urgente de pôr termo a esta situação. Além disso, outra motivação extra - desejar que a minha filha tenha pai até não precisar dele ou, como ela dizia, "para não morreres cedo..."
Após sair do hospital, ao passar pela farmácia comprei os pensos de nicotina. Experimentei durante dois a três dias em mais uma tentativa fracassada.
Até que, no tal dia catorze de Fevereiro do ano da graça de 2007, faz hoje dez meses, sem dizer nada a ninguém, comecei a minha luta individual apenas munido da minha decisão de parar e com a ajuda dos tais pensos de nicotina. Aguentei três dias. Ao quarto dia, com os sintomas de privação a falar mais alto, reclamando constantemente a dose habitual de nicotina, deixei-me seduzir por um método gradual que encontrei na internet. Comprei um maço e conclui o que já sabia - o método gradual não era viável pois a redução foi muito pequena. Do tal maço, no final do dia, restavam apenas 3 cigarros. Antes de deitar, peguei neles com a tenaz, um a um, e fiquei a vê-los arder na lareira numa espécie de ritual, ao mesmo tempo que prometia a mim mesmo não voltar a fumar.
E recomecei a minha luta, agora mais consciente que não se pode ceder à vontade de fumar, "no pain, no gain". E fui colocando os pensos de nicotina ao longo de cinco dias. Ao quinto dia tomei consciência de toda a "cambada" que se movimenta e vive à custa dos fumadores: fisco, tabaqueiras, produtores de tabaco, publicitários, farmacêuticas com os seus produtos milagrosos para deixar o tabaco, programas, clínicas, médicos, psicólogos... todos a viver à pala dos fumadores que subsidiam este negócio de milhões e ficam para si com o odioso da questão no papel de explorados a usufruir apenas do lado negativo do negócio.
E acabei de imediato com a administração dos tais pensos de nicotina, ao mesmo tempo que transformava em motivação e força de vontade o ódio a essa corja de exploradores.
Ao quinto dia, ao pesquisar na net, encontrei uma ONG que apoia quem quer deixar de fumar - www.parar.net. Enviei-lhes um e-mail, responderam de imediato e, ao longo dos primeiros meses, por e-mail, prestaram-me apoio personalizado através de uma pessoa extraordinária que me deu um feed-back precioso nesta cruzada contra o fumo.
E assim me tenho mantido até hoje. Sinto-me muito bem, a todos os níveis e muito orgulhoso da decisão que tomei e tenho conseguido manter.
E o tabaco acabou? Espero bem que sim. Continuo a recear uma recaída mas firmemente decidido a não voltar a fumar, embora, de vez em quando, como aconteceu ainda na semana passada, ainda sonhe que estou a fumar. A tentação continua sempre presente mas agora, depois de conhecer as armadilhas e ter experimentado as vantagens de não fumar, muito dificilmente lá voltarei.
Só tenho pena de não ter tomado esta decisão há mais tempo...

2 comentários:

Anónimo disse...

Não estou a perceber nada disto mas desconfio que se trate de azelhice minha. Preciso de treinar mais.
O Jorge enviou um comentário cuja publicação julgo ter autorizado mas a verdade é que não aparece. Que é que terei feito de errado? A ignorância é terrível!
O comentário do Jorge dizia assim:
Olá,
Parabéns pelos teus 10 meses!!!
Há quem consiga, outros nem por isso...:(
Vou ter que me esforçar mais um pouco;)
Abraço

Barbaçana disse...

Meu caro Xeringador este teu testemunho real e muito bem redigido como afinal é teu apanágio deveria ser assim como tantos outros divulgado até à exaustão, talvez ao lêr estes e outros testemunhos idênticos os fumadores compulsivos ganhassem coragem de ao menos experimentar, pois consta que muitos fumadores nem sequer tentam deixar o hábito, tal é vício e a avidez dos seus corpos e neurónios por nicotina. Li há dias num jornal qualquer que a inalação de nicotina e a sua consequente entrada no sangue através dos pulmões provoca a libertação de dopamina uma substância que provoca uma sensação de felicidade, daí que o fumador seja compelido a fumar cada vez mais para se sentir feliz e sinta receio de largar o vício por se sentir infeliz se nãofumar.
Fico feliz por ti, pelo Marcelo Anjos,pelo Vitor Silva e por tantos e tão variados amigos que foram capaz de superar o vício.
Felizmente provenho de uma família tradicionalmente não fumadora, avós,pais, eu próprio e o meu filho não fumamos, nunca fumámos. Eu própio enquanto jovem esporadicamente em festas e casamentos experimentei fumar uns cigarros,mas no outro dia a boca amargava-me e o cigarro nunca me conseguiu viciar, mas tenho um exemplo na família,concretamente o meu sogro que fumou 40 anos "Português Suave" e de um dia para o outro largou o tabaco. Para ele foi a doença que o obrigou. Começou a sentir-se fraco, apático, sem forças,cansado e largou imediatamente os cigarros pensando ser o tabaco que lhe estava a minar os pulmões, porém a ida ao médico e as análises que primeiramente diagnosticaram anemia grave vieram a comprovar um cancro maligno no estomago.
Operado de imediato numa clínica privada, já lá vão 10 anos de uma vida perfeitamente normal e activa nos seus afazeres agrícolas, sendo também um sobrevivente a dois ataques do miocárdio, um bastante forte que o ia "levando" pouco tempo depois da operação ao estomâgo e a 2.ª vez mais recentemente, mas apenas uma pequena dor passageira que nem deu internamento.
Meu caro não te maço mais com as minhas patranhas e apenas te desejo as maiores felicidades nessa tua cruzada contra o vício.
Fica bem e aquele abraço...