janeiro 09, 2008

A morte do artista

A minha amiga Diana confidenciou-me, hoje, que ficou de apresentar um trabalho, no seu grupo de meditação, sobre um raio de um tema, mais tétrico não pode haver - a morte. E perguntou-me se não queria escrever um textinho só para lhe dar o mote para a sua dissertação. Como bloguista que se preza e já que não arrisco molestar os leitores que não tenho, não enjeitei a oportunidade de reflectir um pouco sobre o assunto.
E porquê o título - morte do artista? Apenas para suavizar um pouco o tema. Todos sabemos que a morte, em abstracto, é muito triste e constitui um tema tabu em que ninguém gosta de tocar nem mesmo para ajudar a Diana. Mas, vá-se lá saber porquê, se se tratar da morte do artista, já não há nenhum problema e ninguém reclama. Porquê? Haverá artistas a mais e até é bom que a morte nos vá libertando de alguns deles? Não me parece.
Ora, pensando um pouco, a única morte que existe é mesmo a do artista. A sua marca no mundo e nas pessoas com quem lidou ficará por cá. A sua obra, boa ou má, com tudo o que ele fez, enquanto por cá andou, vai continuar; as riquezas que amealhou ou as dívidas que contraiu, as obras que executou, o bem ou o mal que fez, as influências que exerceu, o amor que suscitou, tudo isso ficará juntamente com a saudade ou a alegria da sua partida.
Então por que é que nos deixa tanta mágoa perder alguém? Porque deixámos de poder inter-agir com essa pessoa. E é a inter-acção que move este mundo e nos faz dizer que a solidão é o pior que há. É essa mesma necessidade de inter-agir que nos leva a comunicar de todas as formas - a escrever mensagens, cartas, blogues ou livros - e tentar ter um retorno dos receptores da nossa mensagem; sejam eles quem forem, até poderão ser desconhecidos.
Bem podemos concluir que viver é inter-agir e inter-agir é viver, até que a morte nos separe.

1 comentário:

Barbaçana disse...

Quando li o título pensei naquele ditado "um pequeno descuido é a morte do artista", provavelmente inspirado na morte de algum trapezista de circo que não acertou no trapézio e pensava que tivesse morrido algum artista teu amigo.
Fico feliz por teres afinal falado no abstracto.