janeiro 24, 2009

Fora o árbitro

Nos primórdios do futebol, o árbitro era escolhido de entre a assistência, na hora de iniciar a partida. O jogo e as suas exigências evoluiram e agora, de tempos a tempos, em nome do rigor, fala-se em usar as novas tecnologias como meios auxiliares da arbitragem. Desta vez é o Braga que, descontente com os erros que alegadamente o prejudicaram, vem à carga com o assunto.
Na minha opinião, o recurso a instrumentos de observação que diminuam a componente humana, subjectiva, irá empobrecer o fenómeno futebolístico em vez de o enriquecer.
A paixão pelo futebol deriva de vários factores, quase todos imponderáveis e aleatórios que nada têm a ver com o rigor e a objectividade que se pretende introduzir. Em primeiro lugar, a inclinação por um emblema surge, quando surge, para dar resposta à necessidade de afirmarmos a nossa identidade individual e, por outro lado, porque o nosso ser social precisa que nos sintamos pertença de um grupo.
Para optarmos por um ou outro clube, serve perfeitamente a razão que, no momento da escolha, estiver mais à mão. Seja por motivos geográficas, afectivos, familiares ou por identificação com os vencedores, a verdade é que a escolha é feita de ânimo leve, por mero acaso sem qualquer racionalidade. Mas, depois de decidirmos qual é o nosso clube, ele passa a ser especial.
A força da paixão pelo futebol, para lá do espectáculo proporcionado pelo desempenho dos jogadores, reside na incerteza de um resultado aleatório, fruto de um conjunto de acções: a bola que entra, passa ao lado ou vai ao poste, o guarda-redes que defende "in extremis" ou deixa entrar uma bola fácil, o atacante que falha escandalosamente, o penalti que o árbitro não viu ou que só ele viu, o golo em que a bola não entrou, o golo bem ou mal anulado pelo árbitro...
Claro que todos nós somos a favor da verdade, mais ainda quando ela nos favorece. E somos contra a mentira, ainda com mais veemência quando ela nos prejudica.
Em nome da paixão que rodeia este fenómeno desportivo deixemos os homens errar com honestidade e boa fé pois, na vida e no futebol, no imediato, parece não haver justiça mas, no final, ela será feita.

2 comentários:

Anónimo disse...

É redutor culpabilizar os árbitros pelo Estado do futebol. O sistema e a estrutura é que o comandam, em termos modernaços é um www.connections.com. As “connections” mais não são do que os elos que ligam os actores. Em todo o caso, e sem recorrer às tecnologias áudio-visuais, poderiam introduzir-se pequenas modificações que dignificariam o espectáculo e lhe trariam mais verdade. Dou o meu contributo sugerindo algumas. Comecemos pela entrada dos árbitros em campo; essa equipa deveria ser acompanhada
por forte dispositivo policial e, com o povo a gritar “queremos boas arbitragens” elevar um cartaz com o dístico:«vão-se fazer”. Este mesmo cartaz, através de um dispositivo mecânico do tipo
“estende-encolhe” levantar-se-à durante o jogo sempre que a população assistente vociferar
“queremos decisões justas”. Temos depois o jogo propriamente dito que, para o árbitro, só tem duas dimensões, a técnica e a discipli-
nar.
As principais questões técnicas críticas poderiam resolver-se assim:
-os penalties serão sempre duvidosos e resolvidos por moeda ao ar: se caras, é (de caras), se coroa não é e pronto.
-dúvidas nos choques entre jogado-
res - resolvem-se por votação:
nota (não moeda) ao ar: o árbitro atira a nota ao ar na linha que divide as duas metades do campo e a falta é a favor do campo onde cai (com vento a nota é metida na bota do árbitro).
-o grande problema do futebol dá pelo nome de “off side” ; parece complicado mas não é: o nome muda-se para “off shore” e (presumível)
prevaricador declara ao árbitro o dinheiro que quer aplicar; a decisão de ser ou não penalty dependerá da quantia que lá quiser investir (haverá uma tabela para os “shores”).
- a bola saiu ou não pela linha lateral? resolve-se por maioria: os que são a favor alçam a perna (o dedo no ar pode provocar um gesto feio). Se houver empate o árbitro expulsará o (presumível) infractor para haver maioria.
- as compensações de tempo também podem levantar celeuma; para esta é fácil: o árbitro dá o jogo por terminado quando todos os especta-
dores tiverem saído (quando é proibida a assistência acaba quando todos os jogadores de uma equipa abandonarem o campo).
-não será muito relevante mas, por vezes, há o problema dos apanha-bolas. Eu por mim escolhia beldades femininas (nisto sou racista de género) em topless e o jogador perdia a bola quando estivesse mais de 5 minutos a olhar para elas.
As questões disciplinares fiam mais fino mas, com inteligências como a minha (modéstia à parte) também se resolvem.
-mudava a feitura dos cartões: o amarelo por papel higiénico para o prevaricador ter vergonha de o usar e não repetir a falta; o vermelho por uma cautela de lotaria que o árbitro entregaria ao faltoso por não o chatear mais.
-agressão ao árbitro (coisa feia) seria punida com obrigação de jogar 3 jogos completos ao pé cochinho para ver como elas doem.
-situação por vezes crítica a saída no árbitro no final do jogo. Para tudo ficar ajustado deverá sair por um corredor formado por claques do clube visitado, com uma ambulância à espera para evitar perdas de tempo com o 118.
-Mas os que ofendem os árbitros sofrerão as devidas penalizações: fdp- deve estregar-lhe 20 folhas da secção “convívio” de 20 jornais; c.ão- deve oferecer à esposa um cruzeiro de 15 dias às caraíbas; ga.uno- entregar-lhe a chave de sua casa; pan.ro- entregar-lhe um ramo de flores composto com lírios.
Estou certo de que, com estas sugestões, o futebol ficaria mais espectáculo, agradaria aos assistentes, no campo ou na tv, aumentaria a produtividade e poderíamos generalizar o princípio do outro: quem não gosta do trabalho o que é que lá vai fazer?
Aix, que sim serei de guicho!

Zé Ruela disse...

Gostei das tuas regras, Aix. Talvez resultassem embora me pareçam um bocado difíceis de aprender mas, com árbitros profissionais, com a semana inteira para as estudar, penso que não seria problema.