
Na minha opinião, o recurso a instrumentos de observação que diminuam a componente humana, subjectiva, irá empobrecer o fenómeno futebolístico em vez de o enriquecer.
A paixão pelo futebol deriva de vários factores, quase todos imponderáveis e aleatórios que nada têm a ver com o rigor e a objectividade que se pretende introduzir. Em primeiro lugar, a inclinação por um emblema surge, quando surge, para dar resposta à necessidade de afirmarmos a nossa identidade individual e, por outro lado, porque o nosso ser social precisa que nos sintamos pertença de um grupo.
Para optarmos por um ou outro clube, serve perfeitamente a razão que, no momento da escolha, estiver mais à mão. Seja por motivos geográficas, afectivos, familiares ou por identificação com os vencedores, a verdade é que a escolha é feita de ânimo leve, por mero acaso sem qualquer racionalidade. Mas, depois de decidirmos qual é o nosso clube, ele passa a ser especial.
A força da paixão pelo futebol, para lá do espectáculo proporcionado pelo desempenho dos jogadores, reside na incerteza de um resultado aleatório, fruto de um conjunto de acções: a bola que entra, passa ao lado ou vai ao poste, o guarda-redes que defende "in extremis" ou deixa entrar uma bola fácil, o atacante que falha escandalosamente, o penalti que o árbitro não viu ou que só ele viu, o golo em que a bola não entrou, o golo bem ou mal anulado pelo árbitro...
Claro que todos nós somos a favor da verdade, mais ainda quando ela nos favorece. E somos contra a mentira, ainda com mais veemência quando ela nos prejudica.
Em nome da paixão que rodeia este fenómeno desportivo deixemos os homens errar com honestidade e boa fé pois, na vida e no futebol, no imediato, parece não haver justiça mas, no final, ela será feita.