Nos primórdios do futebol, o árbitro era escolhido de entre a assistência, na hora de iniciar a partida. O jogo e as suas exigências evoluiram e agora, de tempos a tempos, em nome do rigor, fala-se em usar as novas tecnologias como meios auxiliares da arbitragem. Desta vez é o Braga que, descontente com os erros que alegadamente o prejudicaram, vem à carga com o assunto.
Na minha opinião, o recurso a instrumentos de observação que diminuam a componente humana, subjectiva, irá empobrecer o fenómeno futebolístico em vez de o enriquecer.
A paixão pelo futebol deriva de vários factores, quase todos imponderáveis e aleatórios que nada têm a ver com o rigor e a objectividade que se pretende introduzir. Em primeiro lugar, a inclinação por um emblema surge, quando surge, para dar resposta à necessidade de afirmarmos a nossa identidade individual e, por outro lado, porque o nosso ser social precisa que nos sintamos pertença de um grupo.
Para optarmos por um ou outro clube, serve perfeitamente a razão que, no momento da escolha, estiver mais à mão. Seja por motivos geográficas, afectivos, familiares ou por identificação com os vencedores, a verdade é que a escolha é feita de ânimo leve, por mero acaso sem qualquer racionalidade. Mas, depois de decidirmos qual é o nosso clube, ele passa a ser especial.
A força da paixão pelo futebol, para lá do espectáculo proporcionado pelo desempenho dos jogadores, reside na incerteza de um resultado aleatório, fruto de um conjunto de acções: a bola que entra, passa ao lado ou vai ao poste, o guarda-redes que defende "in extremis" ou deixa entrar uma bola fácil, o atacante que falha escandalosamente, o penalti que o árbitro não viu ou que só ele viu, o golo em que a bola não entrou, o golo bem ou mal anulado pelo árbitro...
Claro que todos nós somos a favor da verdade, mais ainda quando ela nos favorece. E somos contra a mentira, ainda com mais veemência quando ela nos prejudica.
Em nome da paixão que rodeia este fenómeno desportivo deixemos os homens errar com honestidade e boa fé pois, na vida e no futebol, no imediato, parece não haver justiça mas, no final, ela será feita.
janeiro 24, 2009
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2 comentários:
É redutor culpabilizar os árbitros pelo Estado do futebol. O sistema e a estrutura é que o comandam, em termos modernaços é um www.connections.com. As “connections” mais não são do que os elos que ligam os actores. Em todo o caso, e sem recorrer às tecnologias áudio-visuais, poderiam introduzir-se pequenas modificações que dignificariam o espectáculo e lhe trariam mais verdade. Dou o meu contributo sugerindo algumas. Comecemos pela entrada dos árbitros em campo; essa equipa deveria ser acompanhada
por forte dispositivo policial e, com o povo a gritar “queremos boas arbitragens” elevar um cartaz com o dístico:«vão-se fazer”. Este mesmo cartaz, através de um dispositivo mecânico do tipo
“estende-encolhe” levantar-se-à durante o jogo sempre que a população assistente vociferar
“queremos decisões justas”. Temos depois o jogo propriamente dito que, para o árbitro, só tem duas dimensões, a técnica e a discipli-
nar.
As principais questões técnicas críticas poderiam resolver-se assim:
-os penalties serão sempre duvidosos e resolvidos por moeda ao ar: se caras, é (de caras), se coroa não é e pronto.
-dúvidas nos choques entre jogado-
res - resolvem-se por votação:
nota (não moeda) ao ar: o árbitro atira a nota ao ar na linha que divide as duas metades do campo e a falta é a favor do campo onde cai (com vento a nota é metida na bota do árbitro).
-o grande problema do futebol dá pelo nome de “off side” ; parece complicado mas não é: o nome muda-se para “off shore” e (presumível)
prevaricador declara ao árbitro o dinheiro que quer aplicar; a decisão de ser ou não penalty dependerá da quantia que lá quiser investir (haverá uma tabela para os “shores”).
- a bola saiu ou não pela linha lateral? resolve-se por maioria: os que são a favor alçam a perna (o dedo no ar pode provocar um gesto feio). Se houver empate o árbitro expulsará o (presumível) infractor para haver maioria.
- as compensações de tempo também podem levantar celeuma; para esta é fácil: o árbitro dá o jogo por terminado quando todos os especta-
dores tiverem saído (quando é proibida a assistência acaba quando todos os jogadores de uma equipa abandonarem o campo).
-não será muito relevante mas, por vezes, há o problema dos apanha-bolas. Eu por mim escolhia beldades femininas (nisto sou racista de género) em topless e o jogador perdia a bola quando estivesse mais de 5 minutos a olhar para elas.
As questões disciplinares fiam mais fino mas, com inteligências como a minha (modéstia à parte) também se resolvem.
-mudava a feitura dos cartões: o amarelo por papel higiénico para o prevaricador ter vergonha de o usar e não repetir a falta; o vermelho por uma cautela de lotaria que o árbitro entregaria ao faltoso por não o chatear mais.
-agressão ao árbitro (coisa feia) seria punida com obrigação de jogar 3 jogos completos ao pé cochinho para ver como elas doem.
-situação por vezes crítica a saída no árbitro no final do jogo. Para tudo ficar ajustado deverá sair por um corredor formado por claques do clube visitado, com uma ambulância à espera para evitar perdas de tempo com o 118.
-Mas os que ofendem os árbitros sofrerão as devidas penalizações: fdp- deve estregar-lhe 20 folhas da secção “convívio” de 20 jornais; c.ão- deve oferecer à esposa um cruzeiro de 15 dias às caraíbas; ga.uno- entregar-lhe a chave de sua casa; pan.ro- entregar-lhe um ramo de flores composto com lírios.
Estou certo de que, com estas sugestões, o futebol ficaria mais espectáculo, agradaria aos assistentes, no campo ou na tv, aumentaria a produtividade e poderíamos generalizar o princípio do outro: quem não gosta do trabalho o que é que lá vai fazer?
Aix, que sim serei de guicho!
Gostei das tuas regras, Aix. Talvez resultassem embora me pareçam um bocado difíceis de aprender mas, com árbitros profissionais, com a semana inteira para as estudar, penso que não seria problema.
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