março 30, 2008

Motivação

Quando deixamos de nos dedicar ao blogue com a regularidade do costume dizemos que andamos sem disposição, muito ocupados, sem ideias, com muita preguiça, sem cabeça para escrever... enfim, as desculpas que estiverem mais à mão, às vezes até dizemos que o computador esteve com problemas. Mas serão verdadeiras essas desculpas? Claro que sim mas a verdadeira razão do nosso afastamento é, quanto a mim, termos encontrado algo que, ainda que por algum tempo, nos dá mais satisfação que a escrita do blogue. Como diria o principezinho de Saint Éxupéry, encontrámos outra flor a quem dedicar o nosso afecto.
No meu caso, este afastamento temporário, espero, deve-se a outras urgências relacionadas com a agricultura e a jardinagem. E tem sido, de facto, um prazer viver esta época de lavrar, plantar, semear, podar...
E, nesse contexto, o blogue vai ficando para trás.

março 24, 2008

Noite de Páscoa

Desde há vários anos que a noite de Páscoa, em virtude da proximidade dos sinos da Igreja, a tocar desde a meia noite, tem sido passada em branco ou quase.
Há uns anos, à procura de sossego, resolvi mudar o local da pernoita. Não resultou porque, em vez do sino, apanhei com um cão que não se ficou em nada atrás dos sinos e fez questão de ladrar toda a noite. Desisti de mudar e acabei por me sujeitar à fatalidade do destino. Este sábado, uma vez mais, já conformado com a perspectiva habitual, deitei-me, como de costume, com a leve esperança de os tocadores de sino se cansarem e acabarem por dar algum sossego. E foi o que aconteceu ou, pelo menos era o que eu pensava. Dormi o sono dos justos. Tive uma leve sensação de ter ouvido os sinos mas, arrumei o toque no sonho e nem chegou a acabar de me acordar.
De manhã levantei-me a gabar-me da minha capacidade de adaptação e da forma como deixei de ouvir os ditos e dormi toda a noite sem dar pela sua presença.
Foi aí que me deram a notícia que todos sabiam, excepto eu, o sino tinha caído do campanário pouco depois dos primeiros repiques e quase não houvera toque.

março 19, 2008

Crime de lesa-pátria

Hoje, no Gerês, ao apreciar mais uma casa abandonada à sua sorte, voltei a lamentar este verdadeiro crime de lesa-pátria de desprezar um bem precioso e escasso como são as inúmeras casas espalhadas pelo Parque Nacional Peneda Gerês.
Aquela que a foto documenta situa-se num local paradisíaco em plena Mata de Albergaria, nas proximidades de Portela do Homem. É apenas uma entre as inúmeras que por lá se encontram, umas em muito bom estado, outras já totalmente arruinadas. Ainda lá estão, entregues à sua sorte, cada vez mais degradadas pelas intempéries, pelo abandono, pela falta de manutenção, sem utilidade para ninguém e para mágoa de todos. São património do Estado, de todos nós mas, não sei porquê, o desmazelo dos governos sucessivos teimam, neste particular, em não governar e permitir este autêntico atentado à nossa economia, à nossa cultura e, diria mesmo, à nossa sanidade mental.
O assunto é recorrente e, de tempos a tempos, fala-se em as entregar a entidades, públicas ou privadas, que as possam manter/recuperar e rentabilizar mas, na hora H, a coisa falha por mais um pormenor inventado mesmo a tempo de deixar que tudo volte à estaca zero.
Até quando?

março 15, 2008

A culpa é dos aforradores

Vítor Constâncio disse ao Jornal de Negócios que não seria boa ideia baixar os impostos porque essa medida não iria estimular o consumo. Acha ele que os beneficiados pela baixa de impostos não iriam gastar mais mas sim alimentar a sua poupança.
Esta conclusão é, no mínimo, cínica e reveladora de falta de clarividência.
Quem, como ele, recebe um vencimento absurdo, superior por ex. ao do seu homólogo norte-americano, não pode extrapolar da sua situação para a dos restantes portugueses. Será lógico concluir que um aumento, para quem recebe tanto como ele, seja canalizado para a poupança. Mas esse raciocínio não é válido para a maioria dos portugueses que lutam com dificuldades para fazer face às necessidades básicas.
- Sr. Vítor Constâncio, eu não sou economista mas conheço o país em que vivo. Se há condições para baixar os impostos, baixem-se de imediato. É bem mais justo e humano aliviar a carga dos portugueses do que estar a cobrar impostos para desbaratar em vencimentos imorais como o seu, TGVs e outros desmandos dignos de políticas de terceiro mundo.

março 14, 2008

É a etiqueta, estúpido!

Hoje, quando estava a comprar uns óculos de leitura, vi uns, de sol, de que gostei. E, está visto, estava mesmo a precisar já que estou constantemente a perdê-los. Perguntei o preço e disseram-me - 19.95€. Até estranhei mas a menina, perdão, a técnica de vendas, foi assim que o optometrista lhe chamou, adiantou-me que eram uns óculos muito bons, as lentes eram as recomendadas e garantiam protecção total contra os raios não sei quantos. E eu questionei a razão de um preço tão baixo já que, pensava eu, uns bons óculos de sol costumam custar os olhos da cara, salvo seja. E a menina confirmou que assim era. Mas garantiu que as lentes daqueles (os de 19.95) eram exactamente iguais às dos tais muito caros, de marcas consagradas. Então porquê essa diferença de preço? É a etiqueta, apenas a etiqueta - respondeu. Ok, vou levar, quero lá saber da etiqueta.

março 11, 2008

A vida está difícil

Pois é, a vida está difícil. Vi no telejornal que os cabecilhas dos maiores bancos da nossa praça se reuniram para lamentarem quão difícil a vida está. Ou não seria para isso? Não cheguei a perceber para que foi a reunião. Mas até me deu pena o ar pesaroso dos senhores, a dizerem quanto lamentavam ter de aumentar o spread porque a conjuntura está com falta de liquidez. Mas aquilo não me cheirou bem. Não parece ser um acerto de estratégias entre eles para fixarem artificialmente as margens de lucro? E isso não é crime? Isto sou eu a divagar e, se calhar, estou enganado porque os senhores das televisões não disseram nada sobre o assunto e até pareciam solidários com a pouca sorte dos bancos. Mas não há nenhum problema pois, em conjunto, em verdadeiro trabalho de equipa, já encontraram a solução: tiram a camisa a quem pedir dinheiro emprestado, perdão, sobem-lhes um pouco aos juros. Ora, aí está uma medida acertada - já todos sabemos que, perdido por cem ou perdido por mil, é igual... E, além disso, por todos não custa nada ajudar. E assim temos a alegria de ver esses senhores felizes e contentes a aumentar escandalosamente os seus lucros.

março 10, 2008

(Des)acordo ortográfico

"No mundo nom me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vos - e ai,
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "


Alguém percebeu alguma coisa do textinho acima? No entanto é português. Arcaico mas português. E vem provar que a língua evolui.
Cavaco Silva foi ao Brasil e na bagagem levou o novo acordo ortográfico que o governo acabou de aprovar. Mas, pelas reacções que tenho observado, parece que a generalidade das pessoas está em desacordo sobre este acordo. Não sou linguista e limito-me a reflectir esta questão com os dados que a vida me foi ensinando.
Parece que o argumento dos que estão contra é dizer – Não senhor, eu quero continuar a escrever da forma correcta; foi assim que aprendi, assim é que está certo e não me obriguem a escrever de forma errada.
Outros argumentam que ao fazer este acordo nos estamos a vergar aos brasileiros. Não entendo assim. Estamos a respeitar apenas a evolução da nossa língua. E se essa evolução aconteceu no Brasil, mais do que em Portugal, isso dever-se-á ao facto de lá existirem mais factores de evolução em consequência do maior número de falantes, oriundos de todo o planeta.
Ora vamos lá pensar um pouco e ver se conseguimos enxergar mais longe que o nosso umbigo. Se aceitarmos o facto indesmentível de a língua ser dinâmica e evoluir com o tempo, não podemos fechar os olhos e dizer que não concordamos. Ora, se a língua muda e a grafia se mantém, corre-se o risco de a ortografia se afastar da fonética e, assim, criarmos dificuldades desnecessárias. O acordo ortográfico é, não só um acordo entre os falantes, como um acordo entre a fonética e a grafia. Quanto maior for a semelhança entre a linguagem falada e a sua representação gráfica (escrita) mais fácil será para todos. Então vamos lá facilitar a vida aos mais novos que estão ainda a aprender e retirar as letras que não se lêem e só lá estão para enfeitar e confundir mesmo que para tal tenhamos que ganhar novos hábitos.
A questão não me parece ser se estamos ou não de acordo com o acordo. Penso que a maioria das pessoas que diz discordar, está apenas a manifestar o seu desconforto de ter de se adaptar a uma nova forma de escrever diferente da que aprendeu e sempre utilizou.
Mas tinha que ser já? Não tinha de ser já mas quanto mais depressa se fizer mais fácil porque haverá menos mudanças.
Enjeitar a oportunidade de fazer este acordo seria mau por todos os motivos, nomeadamente económicos. Seria o início do fim da comunidade de língua portuguesa se a grande comunidade de falantes do português não se entendesse e cada um dos países tomasse um rumo de evolução próprio.
O latim manteve-se inalterado e assim continua, só é pena ser uma língua morta.

março 09, 2008

Bacalhau à minha moda

Hoje, seguindo o exemplo de outros ilustres frequentadores do fórum de Brunhoso deixei lá uma receita de bacalhau que achei por bem partilhar com os meus leitores. Partilhar a receita, já que, aqui na net, até ver, a partilha ainda não é extensiva ao bacalhau.
Então aqui fica a mensagem que lá deixei:
Já que os homens aproveitaram o dia internacional da mulher para sair do armário e assumirem finalmente quem é que cozinha lá em casa, vou aproveitar a deixa e sair também do meu armário. E vou fazê-lo, ou tentar, da mesma forma airosa dos meus ilustres colegas utilizando o truque da receita.
O prato que aqui apresento é do mais simples que há mas, ao mesmo tempo, do melhor que conheço.
Ingredientes para 4 pessoas:
- 4 postas de bacalhau demolhado
- Batatas pequenas q.b.
- Uma cabeça de alho
- Entre meio quartilho e meio litro de azeite de Brunhoso (o azeite da zona que confina com o Rio Sabor é semelhante ao de Brunhoso e também pode ser usado neste prato).
Colocar numa assadeira de ir ao forno, as batatas com a casca, o bacalhau e o alho (esmagados); regar abundantemente com azeite e levar ao forno por uma hora. É para cozinhar em azeite, como tal deve levar bastante, mais de meio quartilho. O que sobrar pode-se guardar e usar posteriormente noutros pratos.
O ideal é cozinhar no forno mas, quem tiver pressa pode cozer previamente as batatas e quem estiver mesmo com muita pressa, neste caso demorará uns 25 minutos, além de cozer primeiro as batatas, pode usar o micro-ondas.
Enfim desculpem os truques de um cozinheiro já corrompido pela civilização industrial mas, com a falta de tempo, o micro-ondas, é uma modernice muito útil e o paladar do bacalhau acaba por nem se queixar.
Experimentei hoje esta receita e posso adiantar que, uma vez mais, fez as delícias dos contemplados. Não é para me gabar mas o meu amigo Américo, apreciador de boa comida, perguntou-me uma vez:
- Como é que chamas àquele prato de bacalhau cujo sabor, depois deste tempo todo, ainda tenho na boca?
Elucidativo, este comentário do Américo.
Bom apetite.

março 07, 2008

Gosto desta foto


Esta foto foi tirada no Gerês no sábado passado(01.03.08) pelo meu amigo André Ramalho. Vê-se apenas o perfil da pessoa retratada que não sei bem quem é mas desconfio que o meu amigo Gaspar sabe.
Gosto desta foto porque sim. Mas também pela sua simplicidade e pela mensagem implícita de forte ligação e interdependência entre o homem e a natureza. As formas e tons da figura humana e da natureza fundem-se, confundem-se e continuam-se com equilíbrio e harmonia...

março 05, 2008

Champanhe para crianças

Hoje fui com a minha filha fazer as compras para a sua festa de aniversário. Ela lá sabia o que se compra – as guloseimas de todas as formas e feitios, os refrigerantes, os pratos, copos e guardanapos da Barbie... etc. E chegou a vez de a ouvir:
- Falta só o champanhe.
- Como?
- O champanhe para crianças.
- Mas as crianças também bebem champanhe?
- Não é bem champanhe. É só a fazer de conta.
- Vamos lá ver isso mas desconfio que não vais ter direito a nada.
- Oh pai, mas todas as festas dos meus colegas tiveram champanhe!
Levou-me ao sítio do dito e lá estava a tradicional garrafa de champanhe de 75 cl, marca Rik & Rok, e lá dentro “sumo de maçã gaseificado”, custo 1.89€.
- Nem penses, não vamos levar o champanhe.
- PORQUÊ?
E eu expliquei-lhe. Comprar as guloseimas para partilhar com os amigos, tudo bem; comprar as coisas da Barbie muito mais caras que outras iguais mas sem a tal etiqueta, enfim, é festa. Agora tentarem vender-nos sumo de maçã a 2,5€/L, a fazer de conta que é champanhe… isso já é gozar com a nossa cara. E não quero saber se todos os teus amigos compraram ou deixaram de comprar. Em compensação podes gastar naquilo que quiseres o que iríamos gastar no champanhe.
Aquiesceu sem mais fitas.
Quando vínhamos a caminho de casa, a propósito não sei de quê, ouço-a dizer:
- Pai, não sei porquê mas tu és o único adulto que eu admiro.
- Hein?
Fiz de conta que não levei a sério mas fiquei todo babado e a pensar se não terei sido mauzinho ao recusar-lhe o champanhe.

março 04, 2008

Tanto durmo como faço

Diz o provérbio que em Março tanto durmo como faço. No meu caso não está a ser verdade e acho que vou reclamar pois ando a trabalhar bem mais do que durmo. E tanto assim é que não tem sobrado sequer tempo para actualizar o blogue. Prometo que, em breve, logo que esta fase seja ultrapassada, voltarei à regularidade habitual (regularidade na escrita e não no trabalho, está bom de ver).
Geralmente a ausência de escrita é devida à falta de ideias para encontrar assunto que me motive mas, ultimamente, não tenho tido sequer serenidade suficiente para agarrar as ideias que vão surgindo e menos ainda para as trabalhar.
E por falar em ideias, realço que elas são necessárias para tudo. Ontem disse à minha filha (nove anos) que não precisava de se levantar tão cedo. Resposta pronta:
- Como estava sem ideias para continuar a sonhar, resolvi levantar-me.
Outra dela e das ideias, ocorrida há já uns dois anos:
- Pai, quando se nos acabarem as ideias sobre locais para férias vamos voltar a este sítio, está bem?